As Piores capas de 2007


Ando me repetindo nos últimos posts na minha implicância com as listas, pelo fato delas não acrescentarem nada, por serem pessoais ou editoriais demais, enfim, por uma série de razões que, colocadas lado a lado, não constituem exatamente uma ojeriza, talvez uma má vontade!
Estava dando uma olhada nos blogs e páginas de revistas gringas atrás da raspa do tacho de 2007, do que seria tendência para o ano que começa semana que vem ou simplesmente pra descobrir quem passou batido - e muita coisa passou batida - pois desde já reconheço que o ano de 2007 foi bastante especial para a música, independente ou não.
Me deparei então com duas listas, uma da Pitchfork  e outra da Idolator ,ambas sobre o mesmo tema:

                   As PIORES capas de álbuns de 2007.


As capas de discos, originalmente deveriam somente servir de moldura para a identificação do artista, estavam inseridas na idéia de álbum, cujo conjunto era composto por canções, parte gráfica, letras , ficha técnica e agradecimentos.
Com a evolução do mercado e já alçado a condição de objeto cultural, as capas passaram a ter tanta, em alguns casos até mais, importância do que a música que compunha o conjunto, sendo , em um dado momento, o principal referencial mercadológico de uma banda , de um selo ou mesmo de um estilo.
Andy Warhol, nos anos 60, lançou o conceito de Pop Art, e , paralelamente a ele , a capa do primeiro álbum da banda que apadrinhou, o Velvet Underground , polêmica por esconder sob a banana que a ilustrava a foto de um pênis, tendo sido censurada e posteriormente lançada sem tal menção.
O impacto maior desta capa foi a assimilação imediata das gravadoras, em plena contra cultura - não bastava ter uma capa bonita, ela tinha que ser polêmica-
A disputa pela melhor capa se acentuou com o duelo Beatles x Stones, cujas capas passaram a ser esquadrinhadas minuciosamente, servindo até de combustível da paranóia política persecutória que marcou aqueles anos.
Nos anos 70, com o advento do Rock progressivo, as capas passaram a exprimir um conceito, uma introdução ou síntese da obra, The Dark Side of The Moon, do Pink Floyd, talvez a banda das capas mais criativas, é considerado um marco, um ícone até hoje.
Na sequencia, o Punk mudou as regras, mandou os conceitos de mercado as favas: três acordes, letras sem firulas e capas diretas, como a de Nevermind The Bollocks, dos Sex Pistols. Vieram então os anos 80 e com eles as super produções, as capas mega elaboradas, em contrapartida, as capas das bandas com influencia Pós Punk ,os New Romantics e mesmo as bandas de Hardcore ,recuperavam a idéia de conceito, descartada pelos punks , passando a contextualizar a musica através da imagem.
Nesse interim e correndo paralelo a toda essa movimentação, surgiram os elementos que identificavam as bandas de Heavy Metal (Cruzes, cemitérios, monstros como o Eddie , do Iron Maiden) e as imagens icônicas do Reggae e da Black Music cada um agregando valor e criando uma referencia visual para um estilo musical.
Os últimos suspiros de arte conceitual em capas de álbuns foram nos anos 90, quando o vinil já havia sido substituído pelo CD, e as capas não necessariamente ostentavam a elaboração de outrora, bastava uma boa idéia como sinalizava Nevermind, do Nirvana.
A Digitalização da música, neste século, tornou a capa um artefato secundário, item que importa mais a saudosistas da era do vinil do que propriamente para a massa de conssumidores de Ipods e mp3 players.
Mas para estes saudosistas, pessoas a quem manusear uma bela capa era quase um contato com uma obra de arte, uma boa capa ainda reflete muito do som da banda, ou da intenção do selo e até mesmo da qualidade da música que compõe o pacote.
Por isto essas listas me chamaram tanto a atenção, menos pelos artistas citados, mais como evidencias da extinção de uma arte, cujos mecanismos permanecem, mas os elementos se dissipam.

Vídeo: Album Cover Galore - A Batalha das Capas -

Ceremony By Radiohead

A banda mais criativa dos 90's tirando um cover da banda mais influente dos 80's em pleno final de 2007, isso é o que chamo de atemporalidade !

As Listas....



Já começaram a pipocar aqui e ali as famigeradas listas de Fim de ano, em todas elas algumas figurinhas carimbadas irão bater ponto, como por exemplo, o evento cinematográfico do ano: Tropa de Elite.
Em outras, para se diferenciar do previsível, surgirá alguma banda ou filme que você não ouviu falar nem no blog do seu amigo mais antenado.

Listas, como já citei em outro tópico, são invenção Britânica para encher lingüiça nos tablóides, que se alastraram feito praga mundo afora , por sua capacidade de sintetizar uma idéia comum ou de criar polêmica.

O fato é que a polêmica causada pelas listas é exatamente o que mantém o interesse nelas, a divergência de opiniões e um foco de vista pessoal ou editorial é o combustível que alimenta essa pequena (ou grande, dependendo do objeto a ser
listado) manifestação de maniqueísmo midiático.

A Lista dos 10 discos do ano, dos 10 Filmes, dos 10 escândalos, toda publicação que se preze, da mais renomada a mais medíocre fará sua seleçãozinha de acordo com os seus critérios de bom e ruim ,e esses, diga-se de passagem , são tão subjetivos quanto o conceito de bom gosto, varia de acordo com o interesse de cada grupo.

A década de 90 assistiu uma dissociação nunca antes vista em termos musicais no tocante a estilos, enquanto nas décadas anteriores os limites de um estilo eram bem definidos,o que era Country era Country, o que era Hard Rock era Hard Rock e o que era eletrônica era eletrônica, a partir daquela década passou-se a agregar denominações distintas a um mesmo estilo baseando-se, mais uma vez, em subjetivismos e limites tão tênues quanto a quantidade de BPM (Batidas por Minuto) de uma música.

Surgiram termos como Low Fi, Nu Metal, Ragga, Ambient, Techno entre outros e estes se subdividiram em uma centena e meia de subcategorias que tornaram impraticável listar um desses subgêneros sem o risco de invadir a seara de uma sub sub categoria antagônica.

Por esse motivo as listas hoje parecem grandes balaios de gatos , sem um objetivo claro, exceto listar o que se convém, o que participa da linha editorial de quem publica, e , nesses casos, esvaziada a polêmica – o combustível das listas- pela empatia do público, perde-se a essência do recurso.
Tentei quebrar a cabeça e elaborar alguma listinha, por menos representativa que fosse, baseada na conceituação inicial, mas o máximo que consegui foi relacionar um outro fato desconexo que me chamou atenção durante o ano, de qualquer forma, segue abaixo:


Evento Pirotécnico do ano:

O Apagâo aéreo

Personalidade do Ano

Ângelo de Jesus, lavrador de Pindobaçu que tentou invadir o senado pra falar com Lula

Disco do ano
Ate agora, In rainbows- Radiohead, menos pelas músicas, mais pela inovação.

Filme do Ano

Control

Celebridade do Ano
Amy Winehouse

Melhor apresentação
Britney Spears, no VMA (pelo menos, a mais engraçada)


Melhor Retorno de banda
My Bloody Valentine

Programa de TV

Por Toda minha vida, sobre Renato Russo (bem feitinho)

Tropa de Elite do Ano (Sim ,isso já é uma categoria)

O Recolhimento da biografia de Roberto Carlos

Show do Ano (No Brasil)
New Model Army (Tô devendo um post sobre eles)

Washington acha engraçado teu Inglês, Please Come Back!



Existe um séquito de seguidores do Fellini, banda alternativa brasileira do anos 80. Um grande número de ouvintes que ,como eu, descobriu a sonoridade cool da banda ainda umas 2 décadas atrás e agregou à trilha sonora de suas vidas os clássicos o Adeus de Fellini , Fellini só vive 2 vezes, Tres lugares diferentes, Amor Louco , Amanhã é tarde e o póstumo Posta Restante.
O que faria do Fellini uma banda tão influente , mesmo nunca tendo participado de grandes festivais, nunca ter tido clipe no fantástico e nem mesmo assinado com uma grande gravadora não chega a ser um mistério indecifrável.
Quando surgiram, a cena paulistana emulava ecos do Punk e do Pós Punk Inglês, era a década de 80, e , apesar da disseminação das gravadoras independentes mundo afora (pelo menos no mundo competitivo) por aqui a estrutura dessas gravadoras era precária e restrita.
Haviam as Mercenárias, o Cabine C , Akira S e as garotas que erraram, o Vzyadoq Moe, e toda uma leva de bandas alternativas, independentes, que recebiam criticas elogiosas da BIZZ às suas quase obras primas.
Boa parte dessas bandas era formada por jornalistas da revista.
O que reduzia sensivelmente a credibilidade das críticas, ainda que algumas dessas bandas fossem realmente inovadoras , mas a grande maioria simplesmente repetia clichês do rock que se fazia la fora e que não chegava aqui por fatores óbvios, como os comerciais, por exemplo.
O Fellini também era formado por jornalistas, que eventualmente contribuiram com a Bizz, mas tinham um diferencial, um algo mais que nenhuma dessas supra citadas bandas tinha pensado, uma Brasilidade estudada.
O Primeiro disco, ironicamente intitulado O Adeus de Fellini, traz o que talvez possa ser considerado um semi hit, ou a musica mais conhecida banda, Rock Europeu :Você nem imagina o que você não conheceu, agora é tarde, é tarde e meu saco já encheu!
O Fellini associou elementos de MPB e samba a clichês do Rock assimilados por seus contemporâneos, e , apesar da precariedade das gravações se infiltrou no mainstream de forma discreta, não a ponto de ser reconhecido, mas a ponto de ser citado como influencia de bandas revolucionarias com Chico Science & Nação Zumbi.
O Pulo do gato deu-se em Amor Louco, disco gravado em 16 canais, contra os 4 canais dos álbuns anteriores, onde a banda assumia de vez sua brasilidade em um disco clássico e inequívoco.
Chico Buarque Song e Love ‘Till the Morning tornaram-se clássicos instantâneos.
Apos longo hiato a banda lançou o tardio Amanha e tarde,e depois, por MP3, através da comunidade mantida no orkut, uma coletânea de sobras de estúdio chamada Posta Restante.
Os Projetos dos integrantes da banda servem ainda hoje para acalentar noites frias , minimizar a falta que faz o fato da banda mais interessante do pais jamais ter tido o devido reconhecimento. Não que isso faça alguma diferença, afinal, o Fellini é uma banda de musica originalmente popular, filtrada pelo prisma crítico do bom gosto e misturada aos mais sutis elementos da vanguarda que se foi.
Um biscoito fino para poucos, como eu ou você, que chegou até aqui e que guarda uma certeza!
A Quietude é quase um Sonho!

IRA Paradoxal !



Uma das bandas mais criativas do Rock nacional nascido nos anos 80 foi sem dúvida o IRA.
Legítima representante da primeira leva do rock paulistano a despontar no período, ao lado de Titãs e Ultraje a Rigor, o Ira obteve reconhecimento de público e crítica em seu segundo disco, Vivendo e não aprendendo, de 1986. E aí se revelou a faceta mais interessante da banda.
Ao ter a música flores em você vinculada na abertura da novela Global o outro, o Ira rapidamente alcançou o topo das paradas, já ocupadas por suas bandas irmãs ,Titãs e Ultraje a Rigor, cujos integrantes eventualmente se revezavam.
Esse sucesso, ao contrário do esperado, fez a banda levantar a bandeira da integridade, ao se recusar a tocar playback no chacrinha e não participar do primeiro Hollywood Rock alegando discriminação com as bandas brazucas.
Logo depois a banda lançou o genial e incompreendido Psicoacústica, disco que os mais antigos lembram mais por vir com um óculos 3D como brinde do que por sua inovação sonora.
Naquela época, enquanto as outras bandas nacionais copiavam ipsi literi o som que andava fazendo sucesso na Inglaterra, o Ira apontava para uma outra direção.
Já havia o envolvimento do vocalista Nasi com o Funk e o Rap, através de Tahide e Dj Hum, não essa baixaria derivativa do Miami Bass de hoje em dia, mas das raízes do mesmo.
O disco, experimental demais para o gosto popular, não obteve sucesso comercial, e iniciou a primeira derrocada da banda.
Psicoacústica é um álbum fantástico, mistura de elementos de Rap, Reggae e Rock Mod a lá The Jam, que aliás, sempre foi uma das principais influencias da banda,e trazia pelo menos uma boa polêmica, a autoria da letra de Receita para se fazer um herói, atribuída a um colega de quartel de Edgar Scandurra, guitarrista genial e principal compositor da banda.
Letras polêmicas nunca foram novidade para a banda, pobre paulista, do álbum anterior , seria considerada o maior hino racista já composto no país, ainda que a banda se esforce para explicar até hoje que não se trata de uma música discriminatória.
Após o fracasso de vendas de psicoacústica, o IRA mergulhou em uma sucessão de álbuns irregulares, do fraco Os meninos da rua paulo, ao incompreensível você não precisa entender, onde Scandurra já demonstrava a verve eletrônica que desenvolveria nos próximos anos em álbuns solo.
Passaram a década de 90 mergulhados num semi anonimato, onde vez por outra eram citados , ora por causa de pobre paulista, ora por , assim como o capital inicial, terem sido uma banda promissora que simplesmente não disse ao que veio.
O primeiro fôlego para uma recuperação veio em 1999, quando lançaram o álbum de covers Isto é amor, e a versão da Música teorema, da contemporânea Legião Urbana, obteve relativa repercussão, que rendeu um convite da MTV para gravar o bom e bem sucedido Ao Vivo MTV apresenta IRA, seu primeiro disco ao vivo e que provava que eles estava em plena forma e prontos novamente a ocupar o posto que jamais deveriam ter desocupado, por trás do estigma de banda honesta e que não se vendia a essa coisa subjetiva chamada sistema .

O formato acústico, amplamente disseminado no Brasil a partir da segunda metade da década de 90, tirou muitas bandas do fundo do poço e reavivou muitas carreiras em declínio.
A Volta por cima do IRA passaria necessariamente por esse recurso. Assim como o Capital Incial, o Acústico MTV IRA alcançou vendas altas e a banda saiu em turnê angariando novos fans e dando a oportunidade aqueles que jamais os tinham visto em ação ter contato com uma banda madura e coesa.
Infelizmente esse retorno triunfal foi o início do fim.
Em 2007 o IRA lança Invisível DJ , álbum com sonoridade mais próxima dos primeiros discos da banda, onde novamente são bem recebidos pela crítica e ,alguns shows depois , explode na mídia uma polêmica impensável em se tratando da banda mais honesta do rock brazuca.

Primeiro surgiram os boatos de que Nasi havia faltado a alguns shows, logo, uma corrente de admiradores da banda , em um primeiro momento, temeram pelo pior, uma vez que o vocalista já havia passado por clínicas de reabilitação e sua relação com abuso de álcool e drogas era conhecida .
No entanto a situação era mais delicada e não menos complexa, envolvia disputa familiar, suspeita de desvio de dinheiro ,agressões e uma tentativa de fratricídio.

Nasi haveria registrado um boletim de ocorrência onde alegava ter sido ameaçado com uma faca pelo irmão e empresário da banda , Airton Valadão Júnior, logo após partiu para o ataque através da mídia, onde afirmava categoricamente que havia sido prejudicado financeiramente pelo irmão e pelos demais integrantes da banda, em seguida foi divulgado um telefonema do mesmo Nasi ao seu irmão contendo ameças de morte e em seguida, o pai do vocalista pediu a interdição jurídica do mesmo alegando que nasi já não poderia responder por si, vitimado por anos de abuso de substancias entorpecentes, que o teriam deixado incapaz .
O próximo passo foi uma entrevista ao fantástico, onde Nasi explicava a situação através de seu ponto de vista e alegava que tudo se tratava de uma imensa conspiração.
Naturalmente, a essa altura, a banda já havia deixado de contar com seu vocalista original e anunciava que seguiriam , agora com o nome de Trio e com Scandurra nos vocais.

O Grande paradoxo em toda a situação é que o fim da banda depõe contra tudo o que era pregado pela mesma, a tal honestidade e a integridade alegadas seriam substituídas por trocas de agressões publicas motivadas por dinheiro, e não pela falta do mesmo, mas pela visível irritação por não se ter certeza se o que se recebe é o justo, o correto.

Ninguém pode emitir juízo de valor a esse respeito, nem julgar meios que depõe contra os fins, o fato é que uma banda é uma empresa, e como tal tem ônus e bônus, os lucros obtidos em turnê, através de peças publicitárias e todos os canais que gerem lucros para uma banda tem que ser devidamente contabilizados e a parte que cabe a cada um, do exercito de colaboradores que compõem aquela instituição, aos integrantes da mesma, devem estar previstos em contrato.

O que estamos assistindo não é o fim de uma banda, mas infelizmente, a falência de uma empresa.
E o que mais me surpreende, é que essa falência vem da principal propaganda desta empresa: sua suposta integridade.

E Quem Precisa de Listas???


Recentemente a revista Norte-Americana Blender publicou a lista dos 100 melhores albuns Indies da História (Na opinião deles).
Na minha modesta opinião,passou longe!
Os 100 melhores albuns Indies da história não estão bem representados,primeiramente por que por se tratar de uma publicação norte americana, a revista puxa a brasa para sua sardinha, incluindo aqui e acolá uma obviedade.
Em segundo lugar, quais os critérios utilizados?
Com base em que o espertão que redigiu a lista afirma que o genial Unknow Pleasures é inferior a sua cópia Funeral, do Arcade Fire ? (Um Sub Joy Division, bacaninha, mas a léguas de distancia!).
Aonde que a espontaneidade genial e agressiva de Jello Biafra em Fresh Fruit For rooting Vegetables é pior do que Damaged, do Black Flag?
Listas sao extremamente subjetivas e pessoais, originalmente uma tradição britânica para encher linguiça em seus tablóides, para polemizar e gerar comentários irritadiços.
Não se deve leva- las a sério, mas deve-se levar em consideração um fato,
Ver seus discos preferidos serem desbancados numa listinha por uma bandeca que você nunca ouviu e nem vai querer ouvir falar induz a uma idéia,
alguém se habilita a fazer a lista das listas mais ridículas já publicadas?
(Em negrito eu destaco os albuns REALMENTE importantes dessa Lista, pelo menos para mim!)


100 The Shaggs - Philosophy Of The World
99 Dream Syndicate - The Days Of Wine And Roses
98 Palace Music - Viva Last Blues
97 The Mekons - Rock 'N' Roll
96 TV On The Radio - Return To Cookie Mountain
95 The Dismemberment Plan - Emergency & I
94 Half Japanese - Greatest Hits
93 Big Black - Atomizer
92 Dead Kennedys - Fresh Fruit For Rotting Vegetables
91 The Chills - Kaleidoscope World
90 Animal Collective - Strawberry Jam
89 Art Brut - Bang Bang Rock & Roll
88 Daniel Johnston - Yip/Jump Music
87 Wolf Parade - Apologies To The Queen Mary
86 Flipper - Album - Generic Flipper
85 The Clean - Anthology
84 Beat Happening - You Turn Me On
83 The Misfits - Walk Among Us
82 The Embarrassment - Heyday 1979-83
81 The Vaselines - The Way Of The Vaselines
80 Feist - The Reminder
79 Clap Your Hands Say Yeah - Clap Your Hands Say Yeah
78 The 13th Floor Elevators - The Psychedelic Sounds Of The 13th Floor Elevators
77 Arctic Monkeys - Whatever People Say I Am, That's What I'm Not
76 Le Tigre - Le Tigre
75 Galaxie 500 - Today
74 The Fall - 50,000 Fall Fans Can't Be Wrong
73 Meat Puppets - Up On The Sun
72 The Mountain Goats - We Shall All Be Healed
71 Stereolab - Refried Ectoplasm
70 Mudhoney - Superfruzz Bigmuff Plus Early Singles
69 Nick Drake - Pink Moon
68 Descendents - Milo Goes To College
67 Hüsker Dü - New Day Rising
66 Young Marble Giants - Colossal Youth
65 Various Artists - No New York
64 Cat Power - The Greatest
63 Nirvana - Bleach
62 The Feelies - Crazy Rhythms
61 LCD Soundsystem - LCD Soundsystem
60 Sufjan Stevens - Illinois
59 Nine Inch Nails - Pretty Hate Machine
58 Built To Spill - There's Nothing Wrong With Love
57 Bikini Kill - Pussy Whipped
56 Archers Of Loaf - Icky Mettle
55 Bad Brains - Bad Brains
54 Unrest - Imperial F.F.R.R.
53 Smashing Pumpkins - Gish
52 Bright Eyes - Lifted Or The Story Is In The Soil, Keep Your Ear To The Ground
51 Interpol - Turn On The Bright Lights
50 Rilo Kiley - More Adventurous
49 Spoon - Kill The Moonlight
48 Mission Of Burma - Vs.
47 Green Day - Kerplunk
46 Franz Ferdinand - Franz Ferdinand
45 Fugazi - Repeater
44 Various Artists - Wanna Buy A Bridge?
43 Black Flag - Damaged
42 Brian Eno - Another Green World
41 Modest Mouse - The Lonesome Crowded West
40 New Order - Power Corruption & Lies
39 Pavement - Crooked Rain, Crooked Rain

38 The Strokes - Is This It
37 Yeah Yeah Yeahs - Fever To Tell
36 Elliott Smith - Either/Or
35 Liz Phair - Exile In Guyville
34 Superchunk - On The Mouth
33 The Shins - Oh, Inverted World
32 Neutral Milk Hotel - In The Aeroplane Over The Sea
31 Guided By Voices - Bee Thousand
30 Wilco - Yankee Hotel Foxtrot
29 Violent Femmes - Violent Femmes
28 The Magnetic Fields - 69 Love Songs
27 M.I.A. - Arular
26 Belle And Sebastian - If You're Feeling Sinister
25 Sebadoh - III
24 The New Pornographers - Mass Romantic
23 Yo La Tengo - Painful
22 Meat Puppets - Meat Puppets II
21 The Modern Lovers - The Modern Lovers
20 The Hold Steady - Separation Sunday
19 Sleater-Kinney - Dig Me Out
18 Joy Division - Unknown Pleasures
17 The White Stripes - White Blood Cells
16 Slint - Spiderland
15 X - Wild Gift
14 De La Soul - 3 Feet High And Rising
13 Hüsker Dü - Zen Arcade
12 Dinosaur Jr - You're Living All Over Me
11 Minutemen - Double Nickels On The Dime
10 The Smiths - The Smiths
09 Big Star - Third/Sister Lovers

08 My Bloody Valentine - Loveless
07 The Velvet Underground - The Velvet Underground
06 Arcade Fire - Funeral
05 Pixies - Surfer Rosa
04 R.E.M. - Murmur

03 The Replacements - Let It Be
02 Sonic Youth - Daydream Nation

01 Pavement - Slanted And Enchanted

Ian Curtis andou Visitando a Toca!

UNKLE- Burn My Shadow (2007)

Da série preferidos da casa:

Ave Sangria


A primeira vez que ouvi falar da Ave Sangria foi em uma matéria de extinta (Deus sabe até quando) revista Bizz, sobre Psicodelia Brasileira. Ao lado dos clássicos discos do Ronnie Von, figurava uma banda com um título inusitadamente curioso e procedente do Nordeste, de Recife, exatamente.
Na minha adolescência tive acesso aos primeiros e melhores discos de artistas Nordestinos, como Fagner , Alceu Valença, Zé Ramalho e mesmo Elba Ramalho.
O que estes artistas se tornaram depois, por força da indústria, pela necessidade de um retorno financeiro ou simplesmente por descaso com sua proposta musical inicial é assunto para um outro Post, o importante é que aqueles trabalhos demonstravam que havia sim uma cena musical e artística muito forte e com características próprias naquela época na região.
Eram os anos 70, e após o advento do Tropicalismo, o que estava na moda era alardear a nossa Brasilidade. Com o país fechado pela ditadura , nossos olhos se voltavam para nós mesmos. Mas o Tropicalismo tinha um que de movimento estético sulista, impregnado por uma visão colonialista do Sul/ Sudeste sobre um Brasil hipotético, possível, porém improvável.
Era no Nordeste que idéia musical do movimento tropicalista se manifestava da forma mais concisa, sem o aceno da mídia ,preponderante na época.
Era neste mesmo Nordeste que uma segunda geração de artistas assimilava as influências do rock vindo de fora, ou pelo menos do que chegava por aqui, e acrescentava a ela elementos regionais, criando algo novo, espontâneo, como só se veria novamente nos anos 90 através do Mangue Beat.
Lá fora Bowie e o Glitter Rock predominavam, no Brasil, o impacto dos Secos & Molhados, se apropriando da estética Glitter, ainda demoraria a baixar.
Em Recife, uma banda inicialmente batizada de Tamarineira Village, em homenagem ao bairro onde moravam, aplicava essa mistura , de estética internacional e musicalidade regional acrescidas de Psicodelia, eram tachados de Rolling Stones do Nordeste.
Àquela época , o preconceito com região era ainda maior do que hoje. O Brasil se resumia na Rede Globo e a imagem estereotipada e idiotizada do Nordestino era , para a grande massa de espectadores, uma verdade inexequivel.
Talvez por isso, ou em protesto a essa realidade que ainda hoje é absurda, ao chegar no estúdio de gravação para registrar seu primeiro e infelizmente último trabalho, os integrantes da banda tenham se fantasiado de lampião, com peixeiras na cintura.
Mas a verdade é que , dentro do contexto da época, NÃO podia haver alguém no Nordeste produzindo Rock, isso era coisa de Paulista, no máximo, de carioca.
As gravações do album homônimo foram tumultuadas , e isso resultou em uma sonoridade mais acústica do que a banda pretendia,contribuindo para desgastar ainda mais o relacionamento entre os integrantes.
O Album foi lançado sobre protesto da banda, pois à revelia, a arte da capa fora alterada por um arremedo da arte inicial, uma estratégia da gravadora para não pagar os direitos autorais ao ilustrador Pernambucano Laílson de Holanda Cavalcanti.
Em 1975 a banda se reuniu para um concerto de despedida, deste concerto foi extraído o Audio do semi oficial (ou Quase Pirata) Perfumes & Baratchos.
É lá que se consegue, muito mais do que no disco homônimo, sentir a força da banda.
É lá também que se vislumbra o que poderia ter sido.
O Ave Sangria foi uma banda injustiçada, por preconceitos, eufemismos e incompreensão tanto da mídia quanto do público.
30 anos é muito tempo para que se faça justiça, os integrantes da banda são hoje respeitáveis senhores, que ainda trabalham de alguma forma com produção musical, a exceção do baterista, que cometeu suicídio nos anos 80
Mas nunca será tarde para se encantar com o que o Nordeste produziu de mais transgressor três décadas atrás, ainda que paire certa melancolia e uma triste certeza: Enquanto a criatividade for escrava da mídia ela estará sujeita a distorções como a que condenou a Ave Sangria ao limbo das curiosidades.

Abaixo transcrevo entrevista com Almir Oliveira, um dos fundadores da banda, publicada originalmente na revista Coquetel Molotov # 1

Ave Sangria- Uma História

A trancrição de um registro sobre a banda mais injustiçada da história da música brasileira:





Almir de Oliveira fundou o Ave Sangria, grupo pernambucano da década de 70 que foi importante pela sua irreverência e musicalidade à frente de seu tempo. Inicialmente, ele foi formado por Almir, Marco Polo, Ivinho, Agricinho e Rafles. Naquela época de contracultura, o Drugstore Beco do Barato, bar localizado no centro do Recife, antigo TPN (Teatro Popular do Nordeste), era o cenário perfeito para uma juventude que se descobria e contestava o poder político e a moral vigente. Foram batizados de Udigrudi.
Mesmo depois do fim do Ave Sangria, e lá se vão 30 anos, Almir nunca deixou a música de lado. Agora, em seu novo projeto, ele tem a companhia de sua esposa Niedja nos vocais, do neto Caio César, percussionista, além de outros músicos. As composições seguem a linha do rock ‘n’ roll, vício que ele não abandona. Mas Almir também flerta com ritmos como bolero, chorinho e maracatu (mistura, aliás, presente já em sua antiga banda). A irreverência das letras e a ousadia da juventude permanecem. Não é à toa que seu novo trabalho, intitulado “Quem não conhece Lolita, não conhece o Recife”, conta a história de um travesti que escandalizava a cidade nas décadas de 50/60.

Com a ajuda da sua produtora Bianca Simpson, Almir vem se apresentando no Recife e sente-se mais livre para compor e fazer planos de um novo CD e até um DVD. O que eles precisam agora é de apoio das instituições públicas e privadas para concretizá-los. A entrevista que você começa a ler é um retrato fiel e sincero de um músico que resistiu ao tempo, mesmo que muitas vezes tenha sido impedido de dizer tudo o que sentia ou pensava.

"Na capa original, a ave não estava estática, ela voava. Tinha uma caveira de boi, uma coisa nordestina. Porque mesmo sendo rock, tínhamos uma musicalidade do Nordeste"

Como surgiu a vontade formar a banda?
Eu comecei a tocar com 16 anos em bailes e mais ou menos aos 18, comecei a compor. O grupo com o qual eu tocava nos bailes, Os Astecas, não queria fazer algo autoral. Então, um dia, falando com um dos músicos dos Astecas, Rafles, expus a ele a minha vontade de fazer um grupo que tocasse músicas próprias. Aí ele falou de um amigo que morava no bairro de Casa Amarela que também tinha essa vontade. Um dia, ele me levou na casa desse amigo, que era Marco Polo. No mesmo dia, eu conversei com Marco, que logo se interessou. Convidei-o para assistir ao ensaio dos Astecas. Ele foi e gostou. Na metade de 69, eu passei a tocar com Os Selvagens, que também era lá da Vila dos Comerciários (subúrbio do Recife). Foi quando eu conheci Ivinho e Agricinho.

Onde vocês ensaiavam?
O primeiro ensaio foi lá em casa e depois na de Ivinho. Quando a gente foi gravar o disco, ensaiamos na casa de Mário Teodósio (amigo do grupo), no Poço da Panela. A família dele foi passar uma veraneada lá em Pau Amarelo. Nesse tempo não era Porto de Galinhas não, era Pau Amarelo e Candeias (risos). Como a casa ficou vazia e na parte de trás tinha uma garagem, ensaiamos lá mesmo. Depois, o irmão de Paulo Rafael (outro amigo), que trabalhava na Compesa, arranjou para a gente tocar na Associação da Compesa. Era assim, na base da amizade. Os amigos nos emprestavam até instrumentos.

E como eram os shows?
A gente bancava tudo, mas às vezes dividíamos os custos com uns amigos que nos ajudavam na produção. Fazíamos de tudo. Pregávamos cartazes na rua, distribuíamos panfletos... Num show do Perfumes y Baratchos, eu acordei cedo, distribuí panfletos da cabeça do Pina até a pracinha de Boa Viagem, aproveitei e peguei um bronze (risos). De tarde, carreguei e montei os instrumentos, passei o som para a Polícia Federal e toquei à noite. Tínhamos por obrigação tocar todo o show para a Polícia Federal, para que não tivesse nada de errado nas letras. Eles ainda ficavam na hora do show para ver como ia ser.

Teve algum show interditado?
Não. Mas de vez em quando alguém era “convidado” a depor. Flaviola foi chamado para depor na Polícia Federal. Quando a gente ia liberar letra de música, por exemplo, às vezes tinha um bate-bocazinho. Tinha uma música minha chamada “Sundae” que foi proibida. Era uma coisa meio psicodélica e eles não entendiam o que significava. Nessa confusão toda eu dizia: “Rapaz, vocês que são os especialistas em análise de letras não estão entendendo, imagina o povo que está aí passando fome”. Aí ele disse pra mim: “Se repetir isso, fica”. Você não podia dizer que nada estava ruim, só que estava bom, só que a gente não dizia isso. A gente falava do silêncio costurado na boca do guarda.

Quem eram as pessoas que freqüentavam os shows?
Tinha gente do Morro da Conceição à Boa Viagem. Pessoas de pouca instrução ou de grande instrução. Muitos artistas freqüentavam os nossos shows como Paulo Bruscky, Lula Côrtes, Tiago Amorim, Ângela Botelho, Mário Teodósio, e todo o pessoal que gostava de arte e que não estava satisfeito com aquela história de repressão. A nossa primeira apresentação foi num festival em Fazenda Nova já como Tamarineira Village. As pessoas dizem até hoje que a gente não tinha o nome Tamarineira Village, mas já tínhamos.

Naquela época, como a mídia via o trabalho de vocês? Marco Polo já era jornalista? Isso facilitava?
Jornalistas da época, como Celso Marconi, Walter Coutinho, esse pessoal sempre abriu espaço pra gente nos jornais. Marco já era jornalista. Ele começou no Diário da Noite. Em 69, ele foi para o Rio de Janeiro. Quando voltou, o pessoal do jornal já o conhecia e isso facilitava. Duas coisas foram importantes naquela época para a nossa divulgação: a TV Jornal do Commercio e a Rozenblit. Eu toquei em muitos programas de auditório. O Nordeste inteiro via aqueles programas. E a Rozenblit era um estúdio e a fábrica de discos que distribuía para todo o Brasil. Quando a TV e a Rozenblit acabaram, perdemos dois aliados importantes.

Como surgiu o convite para gravar um disco pela Continental?
Tinha uma outra gravadora que procurou Marco pra a gente gravar um disco, não me lembro o nome... Mas nós achamos que ainda não estava em tempo. Éramos ainda Tamarineira Village. Aí o Trio Irakitan passou por aqui e nos conheceu, porque a gente estava sendo comentado no sul do país. Então, eles nos indicaram pra Continental, já que a gravadora estava atrás de um grupo de rock do Nordeste.

E por que a mudança do nome de Tamarineira Village para Ave Sangria?
Tinha pessoas que falavam apenas Village ou não falavam o nome direito. E quando a gente fez o contrato com a Continental, eles acharam que seria melhor trocar por um nome que fosse mais fácil. Eu não queria, mas foi decidido. O nome foi dado por Marco Polo.

Mas o nome era bom...
Eu prefiro Tamarineira Village. Quem deu esse nome foi Rafles, porque ele representa a nossa própria realidade. A maioria dos músicos saiu da Vila dos Comerciários, no bairro da Tamarineira. Tamarineira era o nome do hospício e do bairro e, portanto, tinha ligação com a loucura que a nossa música representava na época. Eu até hoje acho esse nome mais interessante, até porque também dava a idéia de uma comunidade musical, que era o que a gente queria fazer. Queríamos um grupo mais democrático do que foi o Ave Sangria. Porque o Ave Sangria terminou centrado em torno de Marco, apesar de ele ser o músico de mais prestígio. Agora, eu não acredito que isso tenha acontecido pelo fato dele ser jornalista. Outra coisa: as músicas das gravações não foram bem divididas, o grupo era para ter sido mais democrático e não foi.

Como foi a gravação?
Foi uma loucura (risos) porque deram pra gente uma semana para gravar e nunca tínhamos entrado num estúdio. Eu fiquei preocupado, porque pedi a um representante da Continental daqui, um maestro e tempo suficiente pra gente gravar um disco, pelo menos um mês. Era pouco, mas pelo menos a gente tava ensaiando. Mas quando a gente chegou ao Rio de Janeiro, não tinha maestro e foi só uma semana pra gravar. O estúdio só tinha bateria, não tinha instrumento nenhum, e tivemos que correr contra o tempo. Experiências que a gente queria fazer, como, por exemplo, colocar um caboclinho em “Geórgia, a Carniceira”, não foram possíveis. Não se podia errar, porque não dava tempo. Teve até uma música em que eu errei o baixo, mas ficou por isso mesmo. Eu ainda tentei conversar com o produtor para transformar as passagens de avião e hospedagem de hotel em hora de estúdio, mas não teve jeito. A gravadora, na verdade, não tinha muito interesse. Todos os artistas daquela época, no primeiro disco, não ganhavam muita atenção. E do meio mais underground quem estourou foi o Secos & Molhados.

Após esse disco, o que aconteceu com a banda?
Com um mês e meio de gravado, o disco estava em décimo lugar nas paradas da época por causa de “Seu Valdir”. Mas aí, houve a proibição do disco por conta dessa música. O princípio moral e dos bons costumes entendeu que a gente era um atentado. A música dizia: “Seu Valdir, o senhor magoou meu coração”, era um homem cantando para outro homem. Era uma apologia ao homossexualismo...

E Seu Valdir existiu mesmo?
Aquilo foi uma música que Marco fez para Marília Pêra cantar em uma peça, na época em que ele estava morando no Rio. Então, quando ele chegou por aqui, em 71, mostrou a música pra gente. Nós adoramos. Chico Buarque já tinha feito músicas semelhantes, mas como se ele fosse uma mulher. Mas, um homem falando pra outro homem era a primeira vez. Foi um escândalo... Tiraram os discos das lojas, das rádios... Um tempo depois, a Continental relançou o disco sem “Seu Valdir”. Mas aí não teve graça. Foram vendidos, em um mês e meio, de 15 a 20 mil discos. Para a época foi ótimo. Aliás, ainda hoje é ótimo. Hoje ele virou uma peça de colecionador.

Eu li que Charles Gavin, dos Titãs, queria relançar o disco do Ave Sangria dentro da Série ‘Dois Momentos’ da Continental. Como ficou isso?
Na época em que Tom Capone era vivo, conversei com ele no Abril Pro Rock. Eu levei um clipping excelente do Ave Sangria. Eu disse ao Capone que se relançassem o disco, cinco mil eram vendidos apenas por aqui. Ele me deu o telefone dele, passei um mês ligando pro Rio, nunca tive uma resposta. E o projeto do menino dos Titãs era só para quem tinha dois discos. Mas poderia ter lançado com outra banda, mas até hoje não rolou. A master agora pertence à Warner.

Em uma foto de divulgação do Ave Sangria, vocês aparecem junto a uma menina semi-nua deitada. Quem era ela? E, afinal, quem fez a capa do disco?
Até hoje a gente mantém um segredo (risos). Ela era uma menina da sociedade, hoje já é uma senhora. Talvez o marido dela não goste. Mas ela era menor de idade na época, por isso que ficou de costas. Ninguém de maior topou, aí ela disse que fazia. Mas o sentido daquela foto era chocar mesmo, porque as coisas mais simples naquela época se tornavam um estardalhaço. Era uma coisa de ser rebelde, subversivo. Laílson (cartunista e músico pernambucano) fez a capa do disco. Inclusive modificaram, não era exatamente assim. Não quiseram pagar Laílson direito e fizeram essa maquiagem. Na capa original, a ave não estava estática, ela voava. Tinha uma caveira de boi, uma coisa nordestina. Porque mesmo sendo rock, tínhamos uma musicalidade do Nordeste.

Conta uma história interessante dessa época...
Essa história é interessante e inédita. O pessoal estava tocando com Alceu Valença, entre janeiro e fevereiro de 75. Alceu estava montando um show em São Paulo e a Globo queria fazer um quadro do Fantástico com ele. Até que um dia a mãe de Ivinho ligou lá pra mim dizendo que o Ave Sangria tinha que ir pro Rio de Janeiro. Eu fui à casa dos meninos avisá-los que tinha coisa pra fazer no Rio. Passou o tempo, quatro ou cinco dias e outro recado da mãe de Ivinho: “Almir, leve o Ave Sangria pra lá”. Daí eu fui à Rede Globo daqui saber o que estava acontecendo e eles confirmaram com o Rio. Dei o nome completo de todos e viajamos por conta da Globo. Quando chegamos lá, não era pra ser a gente, apenas os meninos que acompanhavam Alceu. Mas a Globo ligou pra Continental e pediu que ela bancasse os nossos custos. A Continental aceitou, mas colocou a condição de também fazermos um Fantástico. Gravamos o especial, mas nunca foi ao ar, porque o grupo acabou.

Mas vocês tinham consciência de que estavam fazendo uma música de vanguarda?
Com certeza. A idéia da gente, primeiramente, era de fazer uma música que expressasse o que a gente era. Vínhamos de uma classe operária, dizíamos o que pensávamos, aquilo chocava. Éramos influenciados pelo rock ‘n’ roll, pelo movimento existencialista e hippie, por toda essa contracultura que estava surgindo no mundo. Então, resolvemos aderir a esse tipo de pensamento, porque era a nossa própria natureza. Mudamos até de hábitos. Porque era o seguinte: naquela época, quando a gente se encontrava com as meninas, não tinha essa história de beijo no rosto não, era aperto de mão. Isso de usar o cabelo grande não existia, das meninas andarem junto com os meninos, só se fosse com o irmão. Então, a contracultura daquela época modificou também a forma de viver das pessoas, o relacionamento ficou mais aberto, até as diferenças das classes sociais ficaram menos separadas. Ali na Vila tinha um pessoal burguês, mas a gente se relacionava bem. O clube Náutico, no entanto, só era freqüentado pela burguesia. Eu ia para o América, que era mais povão (risos).

E dentro desse contexto de contracultura, onde entravam as drogas?
A meu ver são coisas que tiram você do objetivo principal: a música. Hoje em dia eu não sinto nenhuma falta de bebida, de nada. Talvez eu tenha superado isso, mas em outras épocas eu até tenha precisado por conta das minhas carências financeiras, emocionais e profissionais. Só que eu acho que existem outros mecanismos pra você compensar essas faltas sem precisar agredir o corpo e a mente.

O livro do jornalista José Teles, Do Frevo ao Manguebeat, é fiel àquela época?
Não. Quando as pessoas falam de Ave Sangria só publicam o que Marco Polo ou Ivinho dizem. Tem coisas que aconteceram naquela fase do Ave Sangria que eles não contam. Teles me procurou, mas tem coisas que eu falei ou falo, que não sai. Quem começou essa banda fui eu e ninguém do Ave Sangria fala isso e nem está no livro de Teles. Quem tocou no Ave Sangria deveria dizer como realmente foi, mesmo que a mídia puxe para um lado. É a recompensa que todo músico quer, no mínimo. E outra coisa, não seríamos nada sem os amigos que nos apoiavam.

Você tem algum ressentimento por isso?
Nenhum pelo seguinte: você pode considerar que uma coisa é um castigo ou uma oportunidade. Eu não sei o que seria de mim se o Ave Sangria tivesse dado certo. Eu não sei o que seria de nós... Será que ia dar certo? A gente presume que seria melhor, não é verdade? Mas eu acho assim, tudo na vida a gente tem que utilizar como oportunidade. Até aquela história da proibição do “Seu Valdir”. Olha, até hoje o pessoal comenta. João Alberto (colunista e jornalista local) chega à televisão e diz que aquilo era um atentado aos bons costumes e que não gostava.

Aí vem a pergunta que não quer calar: Por que o Ave Sangria acabou?
Bem, eu acho que tem vários aspectos. Mas o principal é: um grupo sem a estrutura financeira, não consegue se sustentar. Eu pelo menos nunca tive um contrabaixo na minha vida... Israel não tinha bateria... A gente não tinha nada. Nós tínhamos uns violões, violas e guitarras. E aí, depois que o disco começou a tocar e foi proibido, aquilo foi um choque muito grande pra gente. Teríamos que começar da estaca zero. Continuamos tocando até o final de 75, que foi quando veio o Festival Aventura e a gente não se inscreveu. E o pessoal foi definitivamente tocar com Alceu, porque precisavam de grana. Mas quero deixar bem claro que Alceu não teve nada a ver com o fim do grupo, como se comentou na época. Os meninos é que não queriam mais o Ave Sangria. Se hoje eu fosse fazer o Ave Sangria, com os mesmos músicos, mas com estrutura, seria muito melhor. Com dois anos de Tamarineira tínhamos mais de cem músicas. E era assim, eu fazia uma música e mostrava a Marco e ele depois chegava com uma pra mim e assim por diante. Teve até uma matéria feita por Teles em que Laílson dizia que eu e Marco tínhamos rivalidade. Nunca teve isso. Pelo contrário, a gente se estimulava.

Existe alguma possibilidade de volta do Ave Sangria?
Existem algumas dificuldades. Marco não quer mais seguir a carreira musical. Se chamar Ivinho pra tocar, ele toca. Rafles também. Agricinho não dá mais. Paulo Rafael vive no Rio de Janeiro. Então, é por tudo isso que se torna complicado. Não é nada pessoal, mas cada um seguiu a sua vida. Eu continuei com o meu trabalho solo, porque não sei viver sem a música. Tocava por ali e acolá e isso já me alimentava. E digo mais, se eu tivesse tido a oportunidade de ser apenas músico, não teria sido engenheiro.


* Entrevista publicada originalmente na Revista Coquetel Molotov nº1

Yeah...There's Something in The Air...


Pogo- Digitalism
Album: Idealism (2007)
Desde já meu candidato favorito a Hit do verão que vem!

O Dia em que o Radiohead Assassinou as Gravadoras!



In Rainbows, o novo trabalho do Radiohead, vem causando controvérsias na industria musical mundo afora, e não são sobre os méritos artísticos do album, mas pela forma como o mesmo foi disponibilizado para venda.
A essa altura praticamente todo mundo que curte a banda sabe que esse disco não vai para as prateleiras das lojas, pelo menos das que restaram, pois ele só pode ser adquirido se baixado do site da banda, mas o mais inusitado nessa estratégia se refere ao preço, não existe um preço para o album, na verdade, quem diz quanto vai pagar é você, isso mesmo, tal qual um leilão, você faz o lance, com a diferença que lá, independente do valor, vocè recebe seu link para baixar In Rainbows no seu email. Claro que, se você optar, pode levar um pacote com o Cd e um Vinil do novo trabalho, aí sim, com preço definido.
No entatnto é a forma que o radiohead encontrou de viabilizar finaceiramente seu trabalho, sem a necessidade de intermediaçâo das gravadoras, que fez a imprensa internacional proclamar o dia 1° de Outubro (data do lançamentdo do album) como O dia em que o Radiohead assassinou as Gravadoras.
Existe um que de exagero nesta afirmação, e um bocado de verdade também.
A industria musical, notadamente as grandes gravadoras, vem se contorcendo desde que o Napster surgiu, para barrar o crescimento deliberado do Download ilegal, da pirataria e do vazamento de informações. - No Brasil, o caso mais representativo disto veio do Cinema, quando Tropa de Elite, o filme sensação de 2007, nem tinha sido ainda finalizado e já estava nos camelôs-
A verdade, ainda que incoveniente, é que, bem ou mal, a pirataria auxilia no processo de divulgação, e isso é uma faca de dois gumes, pois se o trabalho for bom, as vendas aparecem, se for uma porcaria,tem o efeito de um aborto.
O Itunes vende música legalmente para dowload, muitos outros sites especializados também assim o fazem, as gravadoras apostaram que essa seria a saída para o combate ao Dowload ilegal, para a manutençâo do pagamento dos direitos autorais e de sua própria sobrevivência, só não contavam que alguém fosse ter a brilhante idéia de comercializar sua própria música, sem ter que repassar parte do lucro para elas.
E o fato desse alguém ter sido uma banda conceituada e reconhecidamente inovadora, como o Radiohead, põe mais lenha nessa fogueira.
Surgida nos anos 90 e vendida como uma das salvações do rock daquela época, o Radiohead sucitou dúvidas se duraria mais de um verão, surpreendentemente, não só a banda vingou como se tornou a mais importante daquela década, apontando caminhos, destruindo paradigmas (como vem fazendo agora) e inovando a cada novo trabalho.
O disco novo é muito bom, finalmente eles encontraram um equilibrio entre o que tem de melhor (as músicas ganchudas) e de mais questionável (as tais inovações), seria algo como um cruzamento de The Bends com Kid A.
As Gravadoras andam perdidas, tal qual cegos em tiroteio, o Radiohead, como uma bala perdida, contribui com uma realidade que parece cada dia mais plausível, a do fim da industrial musical como a conhecemos, no que elas vão se transformar ainda é cedo para especular,mas o poderio que elas detinham até pouco tempo atrás foi por água abaixo, agora qualquer um pode gerir sua carreira do seu laptop, sem necessidade de intermediários, pelo menos teoricamente.
E o Radiohead, que havia gravado seu nome na história da música quando , em 1997 ,lançou Ok Computer, agora entra em definitivo para a história da industria, pelo menos da música, como a banda que, se não matou, deu o tiro de misericórdia nas gravadoras


Rescue !


O Termo Salvação do rock, quando aplicado a qualquer banda nova, com um trabalho diferenciado, utilizando influencias distintas ou simplesmente copiando uma fórmula , as vezes me faz refletir sobre a volatilidade do que conhecemos como influencias, ou de como as estratégias de marketing estão velhas e opacas.
Todo ano surgem centenas de salvações do Rock, o problema reside justamente em tentar identificar a que época essa suposta salvação remete, ou, na maioria dos casos,a o que elas estão salvando.
Nos anos 90 houve a praga do Ska, toda bandeca de Hardcore daquela época tinha que ter pelo menos uma meia dúzia de músicas no estilo Skacore, com uma variação aqui outra acolá.
A coisa se tornou tão repetitiva a ponto de se tornar irritante.
Se no começo tinha alguma graça,passou a se tornar indicativo maior de falta de criatividade, como acontece nos dias atuais com o...Emocore...
Primeiramente que eu nunca , em momento algum, acreditava que uma denominaçâo tão estapafúrdia fosse ser levada adiante, mas pegou, ô, e como!
A Premiação do VMB deste ano priveligiou o bendito Emocore. Não que a MTV tenha a mesma importancia de uma década atrás de indicar tendências, menos que isso, a MTV atual se limita a refletir o que está na moda, pasteurizando tudo e trabalhando a música como trilha sonora de programa de auditório babaca.
Pouquíssima coisa sobrou na mídia oficial onde se discute com um mínimo de discernimento a cena musical atual, as influencias predominantes e as tais Salvações do Rock!
Acredito que a Rolling Stone Brasil ainda é um ponto de convergência interessante, a ponto que a Re-nata e Re-falecida Bizz voltou como um Zumbi arrogante e por sua arrogância foi destituída do trono de referencia Jornalístico-Musical que ocupava algumas décadas atrás
- E o problema da Bizz foi a conjunção de falta de estratégia, pedancia e uma ingenuidade impressionante-
As Mídias no atual cenário musical, se comunicam e se completam, alguém que lia uma revista, que sim, era rica em conteúdo, naturalmente buscava um complemento da informação, um PLUS, e, na era Orkut, nada mais evidente que esse leitor fosse buscar na rede de relacionamentos, por que esta é uma realidade inquestionável, essa segunda, ou terceira informação.
E o que acontecia? Tal qual numa mesa de boteco após o expediente , os eméritos colunistas da dita cuja, em sua comunidade oficial no Orkut, promoviam uma lavagem de roupa suja sem precedentes na imprensa nacional, pelo menos até onde me lembro, além disso, desandavam a atacar transeuntes que ousassem manifestar qualquer opinião, quando não partiam para o achincalhe puro e simples.
Eu procurei acompanhar a revista , um pouco também a comunidade, mas na medida que as vendas caiam, esta se tornava mais hostil, com cerceamento de opiniões e de liberdade de manifestação, algo impensável no jornalismo de um modo geral.
Restaram os Blogs, esses sim ,a mais contemporânea manifestação independente de conteúdo e opiniões , fenômeno dos nossos dias, mas faltavam pontos de convergência, onde localizar esses blogs.
Comunidades como a RCD no Orkut recentemente facilitaram essa busca criando tópicos de Blogs Parceiros, estes , por sua vez, são linkados a outros e esses a outros e ao final esse caleidoscópio de links nos aproximamos da realidade ideal, aquela em que não escutamos o que nos dizem, mas podemos falar sobre o que, como e onde escutamos.
A salvação do Rock da semana que vem pode ser uma banda calcada no Bauhaus com sonoridade próxima da Roxette, a salvação da mídia musical invariavelmente passa pelos blogs e se perde e se encontra neles, e viva a liberdade individual!

Próxima Década: Os Anos 90


E já que ainda estamos nos anos 80, uma vez que o culto à década do bom gosto questionável não dá sinais de esgotamento, queria falar um pouco sobre os anos 90, que muito provavelmente será o próximo revival .
Naturalmente demora um certo tempo desde o fim de uma década e até a codificação da mesma para consumo, a subliminaridade do tempo e as referencias misturadas , aquelas que ajudam a formar uma identidade totalmente nova de acordo com a utilização destes signos , se sedimentam gradativamente.
Percebam, se nos anos 80 muito se falava dos anos 60 ,no nosso próximo provável revival, os anos 90, o que estava na moda eram os anos 70. Do resgate Grunge às guerras, do levantamento de bandeiras ideológicas, comportamentais à liberdade sexual, do Techno às experimentações químicas, não mais lisérgicas como nos 70’s, porém com o mesmo intuito, servir de combustível para um tipo de manifestação musical e cultural tão inerente aos 90’s quanto os festivais no 70’s ,as Raves.
Assim como os festivais de Rock dos anos 70 tiveram seu pontapé inicial no fim dos anos 60, a origem das Raves data da segunda metade dos anos 80, oriundas da Inglaterra, no entanto seu modelo foi amplamente divulgado a partir do início dos 90's e forjou o comportamento que seria imitado nos resto do mundo pelas próximas duas décadas.
Não podemos esquecer que a década começou titubeante, e que no Brasil esse começo de década foi catastrófico, raiamos o primeiro dia da década com o primeiro presidente eleito democraticamente em quase 3 décadas, tudo bem que houve uma manipulação de mídia impensável nos dias atuais e ainda era muito recente o trauma com o cerceamento de liberdade dos anos de ditadura, mas o fato é que Collor foi eleito por um canal de TV , a Globo,e foi deposto da mesma forma, de forma espetaculosa, pela própria mídia que o outorgou poderes, apontado como co-responsável de um dos maiores esquemas de corrupção jamais visto no País, um escândalo que nos dias atuais pareceria café pequeno .
Da mesma maneira que essa mídia manipuladora nos entregou um presidente em forma de produto, nos empurrou goela (ou ouvidos) abaixo a fase mais deprimente da música Brasileira, repleta de duplas sertanejas , lambadas para consumo externo e muitas bandas Covers, quem viveu aquela época se recorda sem muita saudade da crise criativa que fez praticamente todo mundo que montava banda ser Cover de alguém.
O Primeiro rompimento, na minha recordação, foi político mesmo, com o espetáculo do Impeachment transmitido ao vivo. Com os cara pintadas , mais uma vez a Globo demonstrava seu poder quase onipresente de manipulação popular.
Logo após recordo de timidamente as bandas Brasileiras ressurgirem, criativas, misturando elementos de Brasilidade (como nos anos 70) com Rock, e saindo do eixo Rio-Sampa. Veio o Skank de Minas,Os Raimundo de Brasília,Chico Science e naçâo Zumbi de Recife, aliás , de Recife saiu o primeiro movimento, ou movimentação artística , surgida do país desde...os anos 70, o Mange Beat (Bit para alguns).
Tivemos também o renascimento em grande estilo de nosso cinema, que andava nausebundo de idéias e de recursos com o fim da Embrafilme, uma estatal que servia para enriquecer cineastas de poucos escrúpulos e fazer filmes de qualidade pra lá de duvidosa.
Carlota Joaquina, de Carla Carmuratti nos deu uma versão bem plausível de nossa História, sem Heróis, sem retórica refinada, apelando para o ridículo das situações, nos fazendo enxergar esse país torto sem maiores ficções, somos assim por que assim nos fizeram, encerrava por aí o devaneio de alguns com a imagem construída e divulgada em livros de história, Carlota Joaquina passou a ser, por excelência, nossa maior representação histórica.
Depois vieram Terra estrangeira, de Walter Salles, ousado por, ainda na década de 90 falar sobre a década de 90, sobre a era Collor especificamente, e sobre o êxodo dos Brasileiros desencantados com os rumos do País - aliás, não existe uma coisa mais anos 90 do que Brasileiro fugindo para o exterior-. O Filme também criou uma imagem icónica da década, Fernanda Torres tocando ao violão Vapor Barato, originalmente interpretada por Gal Costa em um dos Discos fundamentais dos anos 70, o ao vivo Fa-Tal-
Terra estrangeira era em preto e branco, o que ressaltava aquela angustia e a falta de horizontes inerentes ao período.
Depois o Quatrilho foi indicado ao Oscar, e O que é isso Companheiro também, e percebemos que tínhamos um cinema em Ascensão em mãos.
Nesse período música internacional também havia sofrido um golpe.
Se no começo da década predominavam os grupinhos baladeiros ,tipo Nelson, os Poseurs do rock tipo Skid Row e Guns’n’Roses e as cantoras de trinados irritantes como Whitney Houston e Mariah Carrey, o Grunge surgiu como um tapa no ouvido de todo mundo. Da emblemática capa de Nevermind do Nirvana ( O bebê sendo pescado pela nota de dollar) às camisas de flanela, usadas por centenas de Brasileiros no calor do verão de 1993, tudo parecia conspirar para uma vingança que nâo sequer era imaginada, o Rock indepente saiu com força do Underground. A Turma do grunge se dissipou em não mais que um verão, e aquela cena de Seatle perdeu força após o suicídio de Kurt Cobain, mas o impacto daquilo tudo para a música que seria produzida depois, para o bem e para o mal, foi inquestionável.
Neste período o cinema internacional também foi pródigo em reciclar idéias de décadas passadas e criar clássicos instântaneos, revelando cineastas geniais, como o tarantino de Caes de aluguel e, principalmente, Pulp Fiction, um marco da década, assim como Trainspotting, de Danny Boyle, que havia a pouco obtido relativo sucesso com o excelente Cova Rasa.
Então tudo ficou muito violento, caótico, a internet se tornou preponderante, surgiram remédios para um controle mais efiicaz da AIDS, Zappa morreu, Caio Fernando Abreu Também, eu cresci e arrumei um emprego e agora estou nesse blog puxando pela memória uma idéia icônica de uma Década injustiçada. Sim, os anos 90 podem não ter sido tão divertidos quanto os anos 80, mas que foram bem movimentados e interessantes, isso sem dúvida eles foram.

Blue Monday -New Order

Pra Descontrair.....

No, No ,Noooooooo....



Dificilmente procuro me inteirar sobre a música da moda, do Rappper casca dura à Gatinha tresloucada, para mim muito mais do que produzir boa música, essa figuras patéticas que frequentam as colunas de Personalidades dos Sites de entretenimento produzem notícias vazias e desnecessárias cujo único intuito é alimentar uma industria inócua, um culto a não-sei-lá-o-que.
Na verdade quando essas criaturas começam a morrer em praça pública, por balaço, overdose ou são presas, flagradas em situações vexatórias ou simplesmente agredindo aos urubus da mídia –os Paparazzi -, eles estão simplesmente cumprindo sua função, algo que transcende o que deveria ser inicialmente proposto, a música. Nestes casos, isto é o de menos, o importante é se manter no foco, seja lá em qual cirscunstancia e a qualquer preço.
David Bowie nos anos 70 e Madonna, nas décadas seguintes, criaram o paradigma de que não basta ter um bom Album no mercado, todo lançamento deveria ser precedido de uma boa polêmica, nestes casos, no entanto, a polêmica funcionava como mero instrumento de Marketing.
Nestas décadas, sem o poder instatâneo da Internet de alastrar centenas de factoides por segundo, as polêmicas deviam ser acompanhadas de um bom trabalho, pois as chances de um erro de cálculo por fim a uma careira eram infinitamente superiores aos das atuais ,quando a música que você ouviu ontem na rádio já é um flashback no mês que vem.
Comecei a ouvir falar de Amy Winehouse no ano passado, época do lançamento de Back to Black, seu último trabalho. Quando falo último, tanto me refiro ao fato de ser seu trabalho mais recente como ao temor de que de fato não sobre muita coisa a ser lançada depois dele.
Sob os rótulos de “Branca com alma negra” e “sucessora das Divas sa Montown” encontra-se um cada vez mais raro talento de se produzir boa música e uma voz potente e encorpada, ao ouvi-la, de fato tem-se a impressão de estar diante de alguma grande dama da Soul Music dos anos 60, nada leva a princípio a crer que aquela voz poderosa vem de uma garota magricela (anorexica?) de 23 anos. Infelizmente, uma garota que aparece na mídia pelos motivos errados.
Amy Winehouse foi descoberta, decifrada e devorada pela indústria do entretenimento de forma tão intensa e voraz que se tornou vítima dela, e tal qual uma Paris Hilton com talento, passou a estampar capas de tablóides e colunas de fofocas pelas constantes bebedeiras, brigas , exageros etílicos e overdose, uma espécie de Peter Doherty de saias.
O Que fica são dois admiráveis trabalhos, Frank (2003) e o já citado Back to Black (2006), nos quais seu inquestionável talento além de encantar deixa no ar uma certa melancolia, pela ingenuidade ,pelo desperdício e pela incerteza da continuidade de uma carreira tão promissora.
Na verdade a única certeza que infelizmente fica é a que já vimos esse filme antes e ele não termina nada bem!

Manu Chao - La Radiolina


O Messias dos imigrantes ilegais está de volta em album inédito...peralá...inédito?

La Radiolina segue a risca a cartilha dos albuns anteriores de Manu Chao, Clandestino (1998) , Próxima Estacion: Esperanza (2001) e Siberie M'etait Conteee (2005), músicas em Espanhol, Francês, Português e Inglês com temática pouco variada, basicamente sobre o dia a dia de mochileiros, imigrantes, expatriados e afins. Se não acrescenta nada também não decepciona quem aprecia a mistura.

Na verdade, Manu Chao descobriu um grande filão ,uma imensa fatia de mercado, estima-se que somente nos EUA haja algo em torno de 8 a 11 milhões de imigrantes ilegais, desse montante, a imensa maioria provém de paises latino americanos, vizinhos ou não.

A Imigração é endêmica e sistemática em todo mundo, até alguns países europeus que cínicamente não impunham barreiras a imigração de forma dura, como a França ,a Itália e a Inglaterra, pois dependem desta mão de obra barata para manter sua rede básica de serviços, anda criando barreiras cada vez mais restritivas para aceitação de visitantes /Imigrantes, como a Inglaterra que está em vias de implantar um visto especial para estudantes que intencionem trabalhar meio período, na tentativa de inviabilizar legalmente aqueles que entram com a desculpa de estudar para imigrarem, uma vez que está cada vez mais raro se encontrar um Londrino em Londres.
Manu Chao é Europeu, Francês, fez parte de uma renomada banda, Mano Negra, com alguma repercussão internacional nos anos 80 e 90, conhece o mercado, sua temática ,e o potencial desse público de imigrantes, Latino-americanos ou não, em encontrar alguém que fale para ELES, sobre ELES, daí vem seu sucesso, ao acrescentar a essa mistura elementos musicalmente certeiros, de fácil assimilação, como Ska, Reggae e Ritmos caribenhos, uma pitada de Rock, alguma ciataçao política e demagogia simplista.

O Novo trabalho não é ruim, mas é repetitivo, muita gente vai adorar, vai fazer muito sucesso nas praias da moda, embalar muitas rodas fumegantes e tocar muito nos bares descolados.

Mas, assim como a imigração ilegal e suas leis ,mais ou menos rígidas dependendo da necessidade das cadeias de serviço de cada país, vai repercutir pouco.

E, particularmente, eu nao aguento mais ovir a voz fanha de Mano Chao proferindo a sentença "Infinita Tristeza"

Control


O Ano era 1987, andava descobrindo muitas coisas, musicalmente falando, o ambiente naquela década era propício e fértil, o país havia entrado na rota dos grandes shows, pelo menos nas grandes capitais, haviam tribos se sedimetando, heavies, darks, new wavies... as radios tocavam boa musica, enfim, era uma festa para os ouvidos e olhos de um curioso garoto de 12 anos.

Dentre estas descobertas, certo dia me caiu nas mãos um disco chamado Substance, de uma banda chamada Joy Division, fui logo informado que tratava-se de uma encarnação anterior de uma outra banda que ouvia bastante naqueles tempos, New Order.

Fui também advertido que o som não tinha a menor semelhança com a encarnação posterior e que o vocalista, um tal Ian Curtis, havia cometido suicídio, aos 23 anos , e que a sonoridade da banda refletia muito um estado de espírito melancólico, atormentado e soturno.

Os acordes de Transmission definitivamente tomaram conta de mim, aquela linha de baixo ficara impregnada no meu cerébro, descobri a discografia da banda, colecionei os vinís, depois os Cds, conheci gandes amigos, muitos dos quais mantenho até hoje, por afinidade musical e o Joy Division definitavemente ficou como um ponto de convergência ,um ícone da minha adolescência.

Tenho acompanhado com muito entusiasmo tudo o que antecede o lançamento de Control, filme baseado na biografia de Ian Curtis ,chamada Touching from a distance escrito por sua viúva, Deborah Curtis e dirigido por um dos mais emblemáticos diretores de Clips dos anos 80/90, Anton Corbjin, com lançamento previsto para 26 de Setembro na Europa e ainda sem previsão de lançamento no Brasil. Aquele garoto de 12 anos que ficava horas a fio se ambientando com aquela realidade distante porém familiar, contextualizando a atmosfera daquela Inglaterra industrial e abrindo os olhos e a cabeça para uma cultura musical e literária mais complexa e menos tropical, esse garoto tem sentido falta de seus Herois!
Trailer:

A Rush and a Push


Eu ainda não tinha me sentido capaz de manifestar ,melhor dizendo, de externar, qualquer comentario sobre esse lamentável acidente como o PR-MBK. Me declaro completamente condolente e solidario com qualquer ser direta ou indiretamente envolvido com o ocorrido.
Uma parte da minha vida profissional se deu na TAM, tenho grandes amigos por la, afeto pela marca, boas lembrancas e mas tambem. Voei muito em 320 e nos ultimos tempos tenho, como boa parte das pessoas praticas desse pais, preferido pouso em congonhas, pela comodidade e pela, ate agora , certeza na seguranca, enfim. O Fato e, 200 seres humanos simplesmente deixaram de existir. Eu nem diria morreram , por que na maioria dos casos , a morte tem um pretexto, nesse caso especifico, com suas pistas escorregadias, reversos pinados, overloads, chuvas torrenciais, nada me afeta tanto as pupilas quanto a imagem da cauda do A320 acenando , como uma placa indicativa,Aqui houve um acidente!
A Midia carniceira, a ignorancia, ah...a ignorancia! o caos , o horror..o horror....

10 Meses, quase um ano, e o inferno se alastra, e o fogo queima, e a inapetencia humana se manisfesta! Ate quando? Ate Quando?

UNKLE - War Stories


Em um mundo onde a cada vez mais a sensatez cede lugar a barbárie, onde transitar por entre as diversas guerras que nos cercam parece atividade impossível, porém necessária, onde somos bombardeados diariamente por ecos de guerras regionais, comerciais, territoriais , e somente nos cabe assistirmos impávidos ao manifesto da estupidez humana. Neste mundo bélico e burro e sobre este estado de calamidade no qual é inadequado procurar por alguma beleza na destruição, surgem eventualmente manifestações artísticas que se não nos levam a contemplar nos levam ao menos a questionar o real significado disto tudo, como uma Guernica, de um Picasso estupefato com a brutalidade que seu povo produziu.

O Novo trabalho do UNKLE surge como uma trilha sonora destes tempos de violência ,uma trilha evocativa ,direta e bela, sim, por incrível que possa parecer, ao evocar paisagens caóticas , histórias trágicas e alarmes anti bombas, War Stories , a seu modo, sintetiza em música toda a tensão, o desespero e a indignação que guerra produz..

Sem dúvida um dos grandes lançamentos de 2007

The Sound



A Historia do The Sound tinha todos os elementos que tornaram outras bandas conteporâneas e de sonoridade próxima, como os comumente citados Joy Division e Echo & The Bunnymen, conhecidas.
No entanto em algum ponto, algo não se encaixou, não se consegue explicar ainda direito por que somente depois de quane 30 anos é que os genias albuns Jeopardy e principalmente From The Lions Mouth, obtiveram uma escala maior de repercussão, muito em parte devido ao fato de bandas mais recentes e com sonoridade calcada nos 80's, principalmente nas bandas pós punk, os citarem como influência , bandas como Editors, Arcade Fire e Interpol.
Mas Lamentável é o fato de que dois dos principais representantes da banda não esteja mais entre nós para receber esse reconhecimento tardio.
Graham Bailey, o baixista, faleceu de AIDS no início da década de 90, no entanto, é a trajetória atormentada e trágica do vocalista e principal compositor, Adrian Borland que mais chama atenção.
Diagnosticado esquizofrênico em 1987, Borland alternou os últimos anos de sua vida entre gravações de irregulares discos solo e internações em clínicas psquiátricas.
Estava finalizando a produção do album Harmony and Destruction, quando, na manhã da segunda feira 26 de Abril de 1999, seu corpo foi encontardo nos trilhos do metrô da Wibledondon Tube Station,em Londres,cidade onde vivia. Tinha 41 anos, pânico de ser internado novamente e desde a sexta feira que antecedeu o suicídio, apresentava sinais de crise esquizofrênica.
A Obra do The Sound é pungente, lírica, poética. É sem dúvida uma das principais, ainda que deconhecidas, definidoras da sonoridade do que viria a ser conhecido como Pós Punk, Uma pérola perdida na estrada escura!


SILENT AIR (A.Borland)

Thunder in the air
Before a storm that rips
Anger in my heart
A finger on my lips
You showed me that silence
That haunts this troubled world
You showed me that silence
Can speak louder than words

Words end in disaster
On the rocks, in pieces
I know something lives on there
But I can't say what it is
You showed me that silence
That haunts this troubled world
You showed me that silence
Can speak louder than words

Dispatch – Bang Bang


Em meados de 2003 andava meio desencantado com a cena musical independente daqueles primeiros anos do novo século, não havia uma revista especializada, A Bizz, à época, tinha encerrado as atividades, sobrava a revista MTV, mas achava ela meio boba e pop (No mau sentido) demais.
Navegando por algum site de música, num dia tedioso qualquer, alguém indicava uma música chamada The General, de um grupo...vá lá..Indie, norte americano, chamado Dispatch.
Baixei uns sons pelo kazaa -Quando ainda havia utilidade no Kazaa que não baixar vírus- e realmente gostei do que ouvi.
A Música, uma balada sobre um general em crise existencial ,supostamente "Perdoando" sua tropa por serem servis e obedientes me tocou, talvez pela pressão que sofria na época no trampo (as vezes algumas músicas casam perfeitamente com determinados momentos cruciais em nossas vidas)
Fiquei instigado e iniciei uma empreitada para descobrir mais sobre aquela banda. Era o velho clichê Indie, banda formada por universitários, conhecida no circuito alternativo, e com um Hit em potencial, a tal The General. Recorri ao Allmusic, à época minha mais confiável fonte musical, e levantei o histórico e a discografia da banda. Formada em Boston em 96, tinha um primeiro disco lançado pela Bomber Recods, Silent Steples, em que esboçavam uma mistura de Folk, ska ,pop (No Bom sentido) Reggae e Funk que convergiria de forma Redonda no segundo Álbum, Bang Bang.
A Princípio, o título tolinho me fazia lembrar, alem de uma referencia óbvia aos velhos filmes de cowboy, a música imortalizada por Nancy Sinatra, tente traçar um paradoxo entre as duas coisas mas dei com os burros n'água. É simplesmente uma das melhores coisas desconhecidas realizadas em território norte americano no fim dos 90's, onde a música parecia violenta e contestadora demais, era um lampejo de "frescor" naquele cenário turbulento e além de tudo,um disco divertido, daqueles que rapidinho vira soundtrack da cerveja com os amigos!
Não vai mudar a vida de ninguém, mas vai tornar seu dia um pouco mais agradável!



E, Por Assim dizer, uma hora tudo acaba!
A Idéia de ciclo, com início, desenvolvimento e fim, é algo que me deixava ansioso, pois sempre que quando o melhor da estória começava, parecia um prenúncio de um encerramento prematuro.
Durante anos tentei manter algum (ou alguns) ciclo em seu vórtice, sem que isso apressasse o fim e nem saísse dali, do meio.
Alguns ciclos constrangedoramente inúteis, outros irritantemente cômodos. Até que percebi um dia que o fim de cada ciclo é sempre ditado pelo desgaste natural,na verdade, uma antecipação do encerramento de alguma coisa significaria a morte figurativa de algo que em sí já estava doente e fadado ao insucesso.
Ocorre que as situações realmente significativas sempre demoraram mais para acontecer, e , quando ocorriam, tornavam-se sólidas, imbatíveis e por vezes, inquestionáveis!
Um casamento, por exemplo, com alguém que se ama, é um ciclo difícil de ser rompido ou antrecipado, talvez por algum motivo de força maior, mas a princípio, não seria algo fadado a um insucesso previsível.
Assim como alguma atividade a que se tem apreço, por gosto, assim como seu hobby favorito.
Nenhuma das situações as quais você realmente dedica o melhor de sí, sua energia extra.
De um ano para cá tenho rompido vários ciclos já naturalmnte desgastados e, inacreditávelmente, sendo lançado em outros que, apesar de presivíveis , são assutadores de tão sólidos.
Para esses, desejo vida eterna!
Saudações do Centauro!