IRA Paradoxal !



Uma das bandas mais criativas do Rock nacional nascido nos anos 80 foi sem dúvida o IRA.
Legítima representante da primeira leva do rock paulistano a despontar no período, ao lado de Titãs e Ultraje a Rigor, o Ira obteve reconhecimento de público e crítica em seu segundo disco, Vivendo e não aprendendo, de 1986. E aí se revelou a faceta mais interessante da banda.
Ao ter a música flores em você vinculada na abertura da novela Global o outro, o Ira rapidamente alcançou o topo das paradas, já ocupadas por suas bandas irmãs ,Titãs e Ultraje a Rigor, cujos integrantes eventualmente se revezavam.
Esse sucesso, ao contrário do esperado, fez a banda levantar a bandeira da integridade, ao se recusar a tocar playback no chacrinha e não participar do primeiro Hollywood Rock alegando discriminação com as bandas brazucas.
Logo depois a banda lançou o genial e incompreendido Psicoacústica, disco que os mais antigos lembram mais por vir com um óculos 3D como brinde do que por sua inovação sonora.
Naquela época, enquanto as outras bandas nacionais copiavam ipsi literi o som que andava fazendo sucesso na Inglaterra, o Ira apontava para uma outra direção.
Já havia o envolvimento do vocalista Nasi com o Funk e o Rap, através de Tahide e Dj Hum, não essa baixaria derivativa do Miami Bass de hoje em dia, mas das raízes do mesmo.
O disco, experimental demais para o gosto popular, não obteve sucesso comercial, e iniciou a primeira derrocada da banda.
Psicoacústica é um álbum fantástico, mistura de elementos de Rap, Reggae e Rock Mod a lá The Jam, que aliás, sempre foi uma das principais influencias da banda,e trazia pelo menos uma boa polêmica, a autoria da letra de Receita para se fazer um herói, atribuída a um colega de quartel de Edgar Scandurra, guitarrista genial e principal compositor da banda.
Letras polêmicas nunca foram novidade para a banda, pobre paulista, do álbum anterior , seria considerada o maior hino racista já composto no país, ainda que a banda se esforce para explicar até hoje que não se trata de uma música discriminatória.
Após o fracasso de vendas de psicoacústica, o IRA mergulhou em uma sucessão de álbuns irregulares, do fraco Os meninos da rua paulo, ao incompreensível você não precisa entender, onde Scandurra já demonstrava a verve eletrônica que desenvolveria nos próximos anos em álbuns solo.
Passaram a década de 90 mergulhados num semi anonimato, onde vez por outra eram citados , ora por causa de pobre paulista, ora por , assim como o capital inicial, terem sido uma banda promissora que simplesmente não disse ao que veio.
O primeiro fôlego para uma recuperação veio em 1999, quando lançaram o álbum de covers Isto é amor, e a versão da Música teorema, da contemporânea Legião Urbana, obteve relativa repercussão, que rendeu um convite da MTV para gravar o bom e bem sucedido Ao Vivo MTV apresenta IRA, seu primeiro disco ao vivo e que provava que eles estava em plena forma e prontos novamente a ocupar o posto que jamais deveriam ter desocupado, por trás do estigma de banda honesta e que não se vendia a essa coisa subjetiva chamada sistema .

O formato acústico, amplamente disseminado no Brasil a partir da segunda metade da década de 90, tirou muitas bandas do fundo do poço e reavivou muitas carreiras em declínio.
A Volta por cima do IRA passaria necessariamente por esse recurso. Assim como o Capital Incial, o Acústico MTV IRA alcançou vendas altas e a banda saiu em turnê angariando novos fans e dando a oportunidade aqueles que jamais os tinham visto em ação ter contato com uma banda madura e coesa.
Infelizmente esse retorno triunfal foi o início do fim.
Em 2007 o IRA lança Invisível DJ , álbum com sonoridade mais próxima dos primeiros discos da banda, onde novamente são bem recebidos pela crítica e ,alguns shows depois , explode na mídia uma polêmica impensável em se tratando da banda mais honesta do rock brazuca.

Primeiro surgiram os boatos de que Nasi havia faltado a alguns shows, logo, uma corrente de admiradores da banda , em um primeiro momento, temeram pelo pior, uma vez que o vocalista já havia passado por clínicas de reabilitação e sua relação com abuso de álcool e drogas era conhecida .
No entanto a situação era mais delicada e não menos complexa, envolvia disputa familiar, suspeita de desvio de dinheiro ,agressões e uma tentativa de fratricídio.

Nasi haveria registrado um boletim de ocorrência onde alegava ter sido ameaçado com uma faca pelo irmão e empresário da banda , Airton Valadão Júnior, logo após partiu para o ataque através da mídia, onde afirmava categoricamente que havia sido prejudicado financeiramente pelo irmão e pelos demais integrantes da banda, em seguida foi divulgado um telefonema do mesmo Nasi ao seu irmão contendo ameças de morte e em seguida, o pai do vocalista pediu a interdição jurídica do mesmo alegando que nasi já não poderia responder por si, vitimado por anos de abuso de substancias entorpecentes, que o teriam deixado incapaz .
O próximo passo foi uma entrevista ao fantástico, onde Nasi explicava a situação através de seu ponto de vista e alegava que tudo se tratava de uma imensa conspiração.
Naturalmente, a essa altura, a banda já havia deixado de contar com seu vocalista original e anunciava que seguiriam , agora com o nome de Trio e com Scandurra nos vocais.

O Grande paradoxo em toda a situação é que o fim da banda depõe contra tudo o que era pregado pela mesma, a tal honestidade e a integridade alegadas seriam substituídas por trocas de agressões publicas motivadas por dinheiro, e não pela falta do mesmo, mas pela visível irritação por não se ter certeza se o que se recebe é o justo, o correto.

Ninguém pode emitir juízo de valor a esse respeito, nem julgar meios que depõe contra os fins, o fato é que uma banda é uma empresa, e como tal tem ônus e bônus, os lucros obtidos em turnê, através de peças publicitárias e todos os canais que gerem lucros para uma banda tem que ser devidamente contabilizados e a parte que cabe a cada um, do exercito de colaboradores que compõem aquela instituição, aos integrantes da mesma, devem estar previstos em contrato.

O que estamos assistindo não é o fim de uma banda, mas infelizmente, a falência de uma empresa.
E o que mais me surpreende, é que essa falência vem da principal propaganda desta empresa: sua suposta integridade.

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