Jesus & Mary Chain

Ao lado do Smiths, Cure, Echo & the Bunnymen e Siouxsie and the banshees, o Jesus & Mary Chain desempenhou papel fundamental na catequização musical da garotada que cresceu nos anos 80.                A banda, que extraia belas melodias entre microfonias ensurdecedoras, também se notabilizou por um comportamento algo pitoresco em sua relação entre sí mesmos e entre a platéia.

O que os irmãos Gallangher na década seguinte incluíriam no pacote de suas aparições ao vivo e no trato com jornalistas já era intensamente praticado pelos irmãos Reid desde sua estréia, em 1984: Mal humor, respostas lacônicas e polêmicas,agressividade tudo isso fazia parte da receita Jesus & Mary Chain de como tratar fãs e imprensa. Porém, apesar do destempero, o que prevalecia era a música, era o regate de  elementos incompreendidos, o ruído levado ao extremo,como  um Velvet Underground no limite da abstração. Se Psychocandy, de 1985 soava como um album estranho, melodicamente estruturado a partir de  incompeensíveis paredes de microfonia e barulhos diversos,  o segundo albúm, Darklands, de 1987,deixava  transparecer a beleza melódica, o elemento pop, quase radiofônico, de uma beleza singular e única.

A aspereza sonora da banda se perpetuou até 1998, quando encerraram as atividades, não sem antes deixar séquito, perpetuando uma trilha que eles mesmos inauguraram ao se declararem seguidores do Velvet Underground.

My Bloody Valentine, Ride, Primal Scream, não é difícil identificar os elementos disseminados entre os imãos Reid até em bandas com Pixes (que regravara Head On) e , mais recentemente no Black Rebel Motorcycle Club e mesmo no Interpool.

Renascidos na grande tsunami de revivals de velhas bandas (e de bandas velhas também) ocorrida no ano passado, o J&MC voltaram a fazer shows, alguns deles memoráveis, como no Coachella Festival, na Califórnia, que contou  com a participação da atriz Scarlett Johansson, no vocal de apoio na canção "Just Like Honey".

A banda se apresenta no Brasil em 8 de novembro, dentro da programação do Planeta Terra, em São Paulo. Não será a primeira experiencia na banda por aqui (eles estiveram no país em 1990) e prometem uma apresentação para fãs de todas as épocas, mesclando músicas de todos os albuns e fases da banda.

Um prato cheio para fãs e saudosistas do melhor legado dos anos 80.

Abaixo o clipe da clássica April Skies, do clássico albúm Darklands:

Kraftwerk e o conceito de Pirataria

kraft

O Conceito de pirataria já se alterou muitas vezes no decorrer da minha trajetória com apreciador de boa música (pelo menos para quem compartilha meu gosto musical).

Se na minha adolescencia um disco pirata significava quase uma encarnação divina, um hiróglifo perdido vendido a um preço altíssimo pela exclusividade da peça, no início da idade adulta o conceito, por razões financeiras, migrou para algo como:

O produto que eu quero consumir pelo preço que eu posso pagar 

Era uma época em que um CD pirata era vendido por cerca de 10 reais em poucas bancas de camelô, ainda.

Depois a pirataria adquiriu um caratér subversivo, danoso, criminal, sendo posta ao  lado do tráfico de drogas como atividade criminosa mais rentável no País, dentro de um mesmo contexto, pois sem o consumo não haveria a produçâo e nem a comercialização.

Sem levantar nenhum tipo de bandeira e por compreender que respeito a direitos autorais é uma questão de cidadania, optei por não consumir produtos piratas, e, no decorrer dos anos seguintes, procurei conhecer bandas através da internet e , caso a música me chamasse atenção, procurar o material original. Passei a compreender o download como uma forma de divulgação que não fica presa a um formato midiático, pois, assim fosse, como se iria enquadrar as centenas de milhares de sites que disponibilizam albuns para download gratuitamente.

Bandas como o Radiohead, cujo In rainbows foi lançado em um movimento inédito , para download pelo preço que o consumidor achasse que devesse pagar (e rendeu mais do que Hail to the Thieve, penúltimo album da banda) e Artic Monkeys, cuja divulgação e aparição se devem exclusivamente à rede, corroboram o argumento de que o download hoje serve muito mais como marketing do que como pirataria.

Lamentávelmente, pessoas fora da realidade do mundo atual, que se esforçam em manter um muro ao redor da informação e agem como se estivessem vivendo há 30 anos, andam perseguindo comunidades de download no orkut, algumas, como a Discografias, que contam com cerca de 800 mil participantes, quase a população de uma cidade de médio porte.

Essas pessoas, para quem a ditadura ainda não acabou, não tem argumentos claros, macaqueam um comportamento Norte americano tão datado quanto o conceito de pirataria que eles defendem.

Nos anos 90 foi forte a perseguição aos primeiros programas de compartilhamento de arquivos,Já falamos sobre isso aqui na Toca , e um dos mais ferrenhos defensores da punição a quem compartilhava arquivos pela internet foi Lars Ulrich, baterista do Metallica, que recentemente declarou que isto (download) é uma realidade do mercado atual e ponto.

Portanto, argumentar o que pode e o que não pode em outubro de 2008 é como discutir o direito das mulheres ao anticoncepcional nos anos 60, é inútil e infrutífero, pois já é um comportamento amplamente difundido e ninguém vai parar de fazer por que meia dúzia de censores ressucitados que desconhecem a complexidade do mercado atual acham que é errado.

Para fechar esse post sobre pirataria com chave de ouro, deixo um inacreditável albúm pirata do Kraftwerk* (Parte I e Parte II) , provavelmente gravado nos anos 80 e lançado exclusivamente em vinil, extraído do blog: MUNDO ESTRANHO DE PB

Enjoy It

Saudações Centaurinas

RCD CHOICE VI

rcd6

Já saiu o sexto volume da coletânea elaborada por membros da comunidade RCD do orkut. A comunidade agora batizada de RCD Rebuilding, está se levantando após ter sido deletada do site de relacionamentos pelos inquisidores moderadores do site que agora tem reprensentação no Brasil.

Aliás, essa questão de deletar comunidades , blogs e (ou ) sites de troca de arquivos com justificativa de pirataria é um tema ridículo e um retrocesso aos formatos mercadólogicos vigentes, ou seja, essa perseguição é típica de mentalidades retrogradas e provincianas, que amam macaquear a demencia persecutória norte americana e promover esse tipo de perseguiçãozinha escrota.

A Coletanea deste mês é emblemática pois além de ser uma homenagem à resistencia da comunidade, é um libelo contra a medocridade predominante entre esses doentes sem pai nem mãe.

Tracklist:

1.Disclaimer –The Dears
2.I Will Leave – Hari and Aino
3.Phantom Other –Department of Eagles
4.Hello Benjamin –Melpo Mene
5.The Sex has made me Stupid –Robots in Disguise
6.Strangers- Van She
7.Cape Fear- The Rosebuds
8.Wretch- Protest the Hero
9.Magic Man- The Aliens
10.Paper Planes- I’m from Barcelona
11.St Peter’s Day Festival- Ra Ra Riot
12.Holes in The Walls- Ponies in Surf

 

Enjoy it !

Fleet Foxes, The Gutter Twins & The Amps



O primeiro é a mais nova sensação do Rock rural norte americano,saídos de Seattle e comparados a bandas como Beach Boys e Crosby, Stills & Nash :

"Crescemos ouvindo Beach Boys e bandas que se preocupavam com a harmonia das canções, então há uma preocupação com isso nas nossas músicas", disse em entrevista à Folha de São Paulo, Casey Wescott, tecladista e vocalista do grupo:

"Pensamos nos arranjos vocais, na forma como as letras são cantadas. A melodia tem de ser forte...".

o Fleet Foxes mergulha fundo no cancioneiro do rock e emerge com material suficiente para produzir um amálgama criativo e original que passa por Van Morrison, Crosby, Stills & Nash, Beach Boys, Bob Dylan, The Zombies, The Birds, Marvin Gaye e até Mutantes.

Na mesma entrevista à Folha Robin Pecknold, vocalista e guitarrista da banda falou sobre a sonoridade da banda :

"Nos sentimos bem-sucedidos se fazemos uma canção em que cada instrumento faz algo interessante e melódico. Nos inspiramos na tradição da música folk, pop, corais gospel, psicodelia barroca, música da Costa Oeste [dos EUA], música tradicional da Irlanda e do Japão, trilhas sonoras. E somos inspirados pela música de nossos amigos de Seattle"

Para ouvir o album de estréia do Fleet Foxes Clique aqui

Já o The Gutter Twins  é na verdade um supergrupo, formado por Greg Dulli, ex-vocalista do Afghan Whigs  ao lado do amigo Mark Lanegan, que foi vocalista do ótimo Screaming Trees.

Nos últimos anos, Lanegan se especializou em participar de grandes projetos seja ao lado do Queens of The Stone Age seja com Isobel Campbell, ex-Belle and Sebastian cuja parceria que já rendeu dois álbuns, fora participações em álbuns de PJ Harvey, Melissa Auf der Maur e Soulslavers..

Mark Lanegan já vinha colaborando com Greg Dulli nos discos do Twilight Singers o que facilitou o processo de criação do The Gutter Twins, cuja estréia oficial se deu em março com o lançamento do álbum "Saturnalia", pelo selo Sub Pop, e agora retorna ao mercado –  via iTunes – com  "Adorata", EP  com oito faixas .

"Adorata" é recheado por covers inusitadas que vão de Primal Scream e Scottt Walker, passam por José Gonzalez e Vetiver e inclui uma em especial: "Flow Like a River", do Eleven, banda de Natasha Shneider, amiga dos músicos e membro do Queens of The Stone Age, que morreu de câncer no começo deste ano, por este motivo, parte da renda da venda do EP será destinada para a ONG Natasha Shneider Memorial Fund. O nome do projeto não poderia ser mais perfeito. The Gutter Twins signfica Os Gêmeos da Sarjeta e vem de umafrase de Oscar Wilde: "Estamos todos na sarjeta, mas alguns ainda olham as estrelas".

Para ouvir Saturnalia e conhecer o projeto, clique nos Links abaixo:

Parte I

Parte II

(Arquivo dividido em 2 partes)

Já a citação à banda formada por Kim Deal, após romper  com a irmã Kelley e pular fora do Breeders, é que este é talvez um dos mais emblemáticos albuns independentes dos anos 90, quando grande parte das bandas se esfacelavam e se multiplicavam em outras boas bandas. O Pixies já havia encerrado (teóricamente) suas atividades em 1993 e desta primeira ruptura havia saído The Last Splash, icônico album das gêmeas Kin e Kelley Deal, sob a alcunha de The Breeders. Em 1995 a banda surgiu com o nome de Tammy Ampersand and the Ampers, após um recesso das Breeders, mas o nome logo foi reduzido para The Amps, e seu primeiro album foi lançado no halloween daquele ano, com muitas músicas que ficaram de fora de Last Splash, ou seja, o primeiro album das Amps seria algo como o material descartado pelas Breeders.

Apesar das boas críticas, o album vendeu pouco e a banda seguiu até o verão de 1996,abrindo shows para o Foo Fighters, quando então Kim decidiu ressuscitar o nati-morto Breeders.

Dessa aventura ficou o brilhante album de material descartado que você pode ouvir clicando ao lado :Pacer- The Amps

Saudações Centaurinas!!!

New Order e as Ideologias!

Uma das pricipais bandas britanicas de todos os tempos, seria uma definição apropriada para o New Order, mas talvez ainda fosse pouco para uma banda que sobreviveu ao suícidio de seu vocalista quando já era uma das principais referencias do circuito Pós Punk, praticamente inaugurando a fase sombria que se seguiria após os arroubos de testorona adolescente que acompanhavam o Do it yourself do movimento Punk.

Como nenhuma outra banda, Bernad Summer, Peter Hook e Stephen Morris souberam se reiventar, criar algo novo a partir do que havia sido quebrado, do que aparentemente estava morto.

Os shows do New Order com repertório do Joy Division, em 2007, são emblemáticos neste sentido, pois evidenciam uma banda que mesmo optando por trilhar outros caminhos -no caso, da música eletrônica, do pop redondo, para as pistas- jamais descuidou da essencia.

Supunha que isso era decorrente de maturidade artística, pessoal, enfim , de maturidade, mas ao esbarrar com comentários de Peter Hook, a qualquer época, sempre me perguntei se a postura era equivalente às ações.

Hook sempre foi polêmico, gosta disto e se dedica a formar frases impactantes e opiniões cruas com a mesma intensidade que cria geniais linhas de baixo. Sempre foi verborrágico e isso, em um certo sentido, contradiz a postura sisuda da banda, o que não é necessariamente ruim. Ocorre que as vezes, quando tenta ser sincero é mal interpretado, como no caso da entrevista que concedeu Radio 2 da BBC, em uma semana dedicada à sua (ex-por-enquanto) banda: O baixista falou sobre seus desentendimentos com o vocalista e guitarrista Bernard Sumner após a passagem da banda por aqui, últimos shows do New Order. "Eu disse a ele todas as noites depois da turnê brasileira que eu não ia mais fazer isso. Eu fui ao Brasil pelo dinheiro. Eu senti que o New Order estava vazio. Mas não posso falar pelos outros , declarou.

No Orkut, algumas comunidades dedicadas a banda consideraram a declaração uma heresia, alguns demonstraram profunda decepção pelo fato da banda ter vindo tocar no Brasil somente "pelo dinheiro" o que não deixa de ser uma grande hipocresia, pois como empresa que é, uma banda vive sim da arrecadação do material que produz, desde que, naturalmente, ele seja produzido sem se levar em consideração somente "o mercado"

A diferença do New Order, para , por exemplo, Justin Timberlake, é que, ao contrário do segundo, a banda tem uma trajetória, um estilo que se sobrepõe as regras mercadológicas que regem a música pop nos dias atuais. Não pretendo nem levantar bandeira e nem criticar Justin Timberlake pelos motivos dele e até entendo que a comparação seja relativamente peasada, mas é uma forma de demonstrar que, enquanto estilo, música é o que se produz e se vende sob um padrão de qualidade incontestável ,porém, enquanto produto, música pode até ter seu charme, mas padece de vitalidade.

Uma coisa ,no entanto, me chama atenção, o fato dos fãs quererem cobrar de um artista uma posição que jamais ele tomou ,uma aura de integridade "contra o sistema"  que jamais foi proferida e nem prometida por ninguém: Música, independente da qualidade,é produto e como tal dever ser comercializado, existindo público tanto para Justin Timberlake quanto para O New Order.

Se uma banda toca por dinheiro é um bom sinal, se tocasse por ideologia seria perigoso, pois por trás das ideologias sempre há a manipulação e esta, é mais prejudicial que um punhado de dólares.