Sinal dos Tempos


Um dos eventos mais marcantes do início desta Década foi sem dúvida a criação dos compartilhadores de arquivos. Se hoje o Napster parece pré histórico, a revolução que ele iniciou e  disseminou nos anos seguintes não tem precedentes históricos, talvez algo que se aproxime disto tenha sido a criação dos primeiros registros fonográficos, que tiraram a música dos imponentes teatros e  salões e a instalou confortavelmente na sala ou quarto da casa de cada um. Após a derrocada do Napster, inúmeros substitutos surgiram para ocupar a vaga deixada pelo pioneiro.

Kazaa, Lime Wire, Imesh, Soulseek ,Torrents, todos deram sua contribuição para socializar a  música ( e os vídeos, e os ebooks e ...enfim)

O contraponto legal a isto é que o conceito de pirataria, antes engessado a um formato de distribuição como vinil ou CD se amplificou e dissipou com a mesma intensidade.

Afinal, de que se trata específicamente o termo em 2008?

a comercialização de arquivos protegidos por direitos autorais sem a devida autorização é o conceito fundamental onde se pode enquadrar a pirataria. Mas e o compartilhamento de arquivos?

Onde enquadrar quem, por exemplo, envia um email para um amigo contendo uma rara gravação de Coltrane?

Quem enquadrar quando em um site qualquer há um link disponível para baixar esse ou aquele arquivo, um lançamento ou uma raridade ou mesmo um album que jamais fora lançado?

Toda a perseguição a quem baixa e a quem disponibiliza arquivos pode ser infrutífera se não caracterizar comercialização.

e comercialização aqui se enende como alguém que obtem vantagens financeiras sobre a venda de um produto ilegal, protegido.

A aquisição dos formatos de mídia vigentes vem caindo ha bastante tempo , caindo tanto que a tendencia para a próxima estação é a ressurreição dos discos de Vinil, algo que virtualmente é impossível copiar e cujas vantagens sonoras são defendidas ferrenhamente não somente pelos saudosistas, mas também por algumas gravadoras.

O fato é: estamos diante de uma nova etapa na guerra entre gravadoras e desenvolvedores de softwares de compartilhamento.

Não há uma maneira eficaz de proibir o compartilhamento de arquivos para uso pessoal, qualquer um com uma conexão com a internet e espaço no HD virtualmente é capaz de ter acesso a qualquer arquivo que deseje, bastando para isso pouco mais que dois cliques .

No início desta década, um dos inimigos mais ferrenhos dos compartilhadores de arquivos atendia pelo nome de Lars Ulrich,baterista do Metallica. E a guerra que ele travou ao Napster terminou sendo tão infrutífera quanto a resistência ao envolvimento de seu grupo com a internet.

Durante as entrevistas de lançamento do novo album do Metallica ,"Death magnetic", Ulrich andou surpreendendo o meio musical com declarações como : "se o negócio está vazando no mundo inteiro hoje ou amanhã, que sejam felizes."

Em entrevista à rádio Live 105, de São Francisco, ele definiu bem este novo panorama que se apresenta: "Estamos em 2008 e isso é parte dos dias de hoje"

Vindo de alguém que defendeu com unhas , dentes e tudo mais o que estivesse a mão os direitos autorais de sua banda, a declaração que poderia causar estranheza se proferida a uns 3 anos atrás, trás embutida um clara constatação, um evidente sinal dos tempos.

A música é um produto que pode ser comercializado em diversos formatos, a socialização dela é uma forma de divulgação e este  padrão , pelo menos por enquanto, foi a forma escolhida por quem consome este produto, porém, de maneira inédita na história, sem a participação de grandes corporações e sem grandes e milonárias estratégias de divulgação. A socialização da música resgatou talvez a principal razão da mesma existir: agradar e despertar emoção sincera em quem a busca.


Abaixo o primeiro vídeo do novo álbum albúm do Mettalica: "The Day That Never Comes"

0 comentários: