Primeira metade de 2011 chegando ao fim e eu retornando ao blog após um hiato de um ano , somente para registrar 2 fenômenos pop que surgiram espontaneamente, concomitantemente, tem mais pontos em
comum do que se faz supor e estão gerando reações apaixonadas, porém , em sentidos opostos.
Como é possível? Talvez observando alguns aspectos do fenômeno, possamos chegar a uma conclusão,ou não, só para começar com um clichê da nossa música, repetido à exaustão.
Amanda Gurgel, para quem (ainda) não sabe, é uma professora de português de uma escola pública de Natal, estado do Rio Grande do Norte, Nordeste do Brasil, que em um pronunciamente espontaneo, na camara dos deputados do estado, pontuou com bastante segurança e propriedade a triste e óbvia realidade da educação no país, evidenciando que, a despeito das diferenças regionais que costumam repercutir nas principais redes sociais em manifestações racistas quando algum analfabeto funcional com um computador se refere de maneira preconceituosa contra alguma região em específico, a educação pública no país é a mesma porcaria, do Oiapoque ao Chuí, eternamente relegada a um segundo (terceiro? quarto?) plano, sem um projeto governamental concreto e que conta com a estranha conivencia da sociedade que agora, estupefata, escuta e aplaude o discursso sensato e realista da professora Amanda sobre uma realidade que sempre esteve alí, na sua cara, o tempo todo.
E o que isto tem a ver com o outro fenômeno Pop surgido praticamente na mesma semana que o pronunciamente da professora Amanda foi jogado no Youtube e se alastrou feito incendio em fábrica de papel no Facebook e Twitter? Absolutamente Tudo!
A música “Oração”, de uma banda de Curitiba, capital do Estado do Paraná, Sul do Brasil, teve uma repercussão espetacular , também a partir de um vídeo postado no Youtube, da mesma forma, disseminado pelo Twitter e Facebook, e qual o segredo da música, do Clipe ? nenhum! é uma canção simples, baseada em um refrão bem bolado, repetido a exaustão , contextualizada em um clip gravado em um suposto plano sequencia, em uma suposta festa de maneira supostamente espontanea!
O Clipe está gerando reações apaixonada de amor e ódio com a mesma intensidade, expondo uma faceta bastante curiosa da nossa sociedade: Somos solidários com o fracasso , com a tragédia, mas intolerantes com o sucesso, de quem quer que seja, pior, somos cruéis com o sucesso alheio, procuramos argumentos,muitos esdrúxulos, para desmerecer o trabalho de quem se destaca por meios próprio. Em uma análise um pouco menos rasa, precisamos do aval de algum totem da mídia para gostar ou não de alguma coisa, e a música “oração” é de uma simplicidade cortante, não veste roupas coloridas, não tem jargões, é úma música simples, como o Pop deveria ser. Ocorre que como ela surgiu em um movimento atípico, muitos destes caciques da mídia (ou da sua escola, do seu trabalho…), que adoram ser os “descobridores” dos novos “Hypes”, ficaram com ciúmes e passaram a desmerecer a canção.
E qual a relação do pronunciamento da professora Amanda e a canção da Banda mais bonita da Cidade?
É extamente a simplicidade , o emprego das palavras certas, na hora correta, a objetividade e, ao mesmo tempo que isto aproxima os dois, cria um imenso abismo entre eles.
Amanda fala sobre o desespero de quem se vê alijado em seus direitos mais básicos, em sua dignidade, sobre o cinismo e hipocrisia que predomina em um contexto social anestesiado e inerte.
A Banda faz uma canção de amor singela, com um refrão apenas, inofensiva.
As duas porém, se disseminaram pelos mesmos meios, com igual intensidade, em uma mesma semana, Amanda foi parar no Faustão, na Record, nos principais jornais do País, a Banda foi sistematicamente desmantelada nos cadernos de cultura e ganhou inúmeras paródias no Youtube, nenhuma delas chegou a fazer algum sucesso relevante, mas é uma daqueles casos que expõem cruamente nossa vocação à inércia social a favor do fracasso e a maledicencia cultural contra o sucesso, tão Nosso isto, não?
Quase uma definição do Brasil !
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