RIP Heath Ledger

De fato, uma grande perda artística, que será devidamente canalizada pela indústria do entretenimento quando for lançado o próximo Batman, onde o ator interpreta um inacreditável Coringa.
Lamentavelmente os anos 00 já tem um mito.
abaixo uma entrevista quando do lançamento de I'm not There, onde interpreta uma das facetas de Bob Dylan.

Seven Ages of Rock


Depois de uns belos dias de ausência , volto à toca para comentar um ou outro acontecimento musico-cultural que tenha me chamado atenção neste particularmente quente início de 2008.
E uma das primeiras coisas que eu gostaria de recomendar tem um pouco a ver com a proposta do Blog, de comentar as variáveis da música pop, contextualizando e , dentro de um prisma pessoal, analisando os lançamentos e fatos que invariavelmente surgem acerca desta ou daquela banda.
No fim do ano que passou topei com um documentário exibido pela BBC em Junho de 2007 chamado Seven Ages of Rock, mas especificamente, com o episódio 6, Left of The Dial , sobre a cena alternativa Norte Americana em uma linha de tempo compreendida entre o início dos anos 80 até os anos 90.
Esse episódio em particular me tocou pela minha identificação com aquela sonoridade College - uma vez que hoje praticamente tudo caiu num buraco negro chamado Indie - que fora o refúgio dos “deslocados” cultural e musicalmente dos anos 80 e que, nos anos 90, através do REM em uma extremidade e do Nirvana em outra , explodiu para o Mainstream e desvirtuou os conceitos de viabilidade comercial conhecidos até então.
Estão ali, em entrevistas, raras imagens de arquivo, shows, análises e menções mais que honrosas , bandas como Pixies, Husker Du, Replacements, Throwing Muses, Black Flag ,Mudhoney entre outros, capitaneados pelos supra citados REM em uma ponta -O nascimento- e Nirvana em outra –Ascensão e queda -
E o por que de cada uma dessas bandas ocupar a extremidade dessa linha temporal é o mote do documentário mais completo, sensível e profundo que já foi feito sobre o assunto.
Nos anos 80, a estética predominante no Rock Norte americano havia sido a do Metal farofa, aqueles cabelos e maquiagens exagerados que, se por um lado, remetiam a estética Glitter dos anos 70, por outro, não tinha comprometimento com uma linguagem específica e nem com uma musicalidade ou referencias mais elaboradas, era vazia de conceitos e atitudes.
Era manhã na América de Reagan, mas em um circuito fechado de cidades esquecidas no interior Norte Americano, uma cena musical tomava forma, uma cena espontânea e quase acidental cujos mentores e seguidores se esbarravam em uma rota que partia de Athens na Georgia, passava por Greensboro, Madison, Minneapolis e desembocava em Seatle.
E o que eles tinham em comum além do descontentamento e frustração com a política e o apreço a uma sonoridade crua, herdeira do Punk e contaminada por idéias ora politicamente radicais ora semi dadaísta, era o amor a liberdade que a estrada os proporcionava, que a independência dos grandes selos os permitiam, porem, toda liberdade tem seu preço e não tardou para a indústria musical, titubeante naquele início de anos 90, alçar o Rock Independente ao status de prioridade.
It’s the end of the World as we Know it, and i feel Fine, já cantara Michael Stipe no último álbum do REM para o selo independente IRS: Document , como se previsse que dali adiante, a liberdade conquistada pela banda seria cerceada por uma indústria de cultura descartável, que produz e crucifica seu produto com a mesma desenvoltura. Losing My Religion, do disco Out of Time, de 1990, alcançou os píncaros das paradas, sendo repetida a exaustão, assim como a controversa (para os fãs) Shine Happy People. O golpe foi maior , porém, no ano seguinte, quando sem mais nem menos, Nevermind, de uma obscura banda de de Seatle, sem nenhum hit anterior e proveniente de um pequeno selo independente, Sub Pop, tomou de assalto FM’s, MTV e toda pauta de revistas dedicadas ao gênero, era o início do fim.
O sucesso de Nevermind criou uma expectativa asfixiante sobre a banda, que não havia projetado e nem se preparado para aquilo e cujos efeitos colaterais teriam o peso de uma espada sobre a cabeça de seu líder, Kurt Cobain.
De repente pipocaram aos montes bandas de rock alternativo com musicalmente pouco ou nada em comum, exceto o fato de serem Norte Americanas, oriundas de selos independentes e terem percorrido trajetória semelhantes.
Pearl Jam, Mudhoney, Soundgarden, Alice in Chains e toda uma geração logo foram disputados a peso de ouro pelas gravadoras e rotulados pela imprensa de Grunge, algo como lixo, lixo da sociedade pós capitalista , da era Reagan, regurgitado e comercializado em reluzentes embalagens na era Clinton, com um diferencial de mercado, um selo de qualidade involuntário, o carimbo da censura através do aviso: contém letras impróprias.
Por não se tratar de um movimento e não possuindo manifesto próprio, e talvez até por isso mesmo, o Grunge ressucitou a intenção de Viviene Westwood quando juntamente com Malcom Maclaren tramaram o Sex Pistols: se apropriar de uma linguagem musical e lançar uma tendência estética.
Porém a Londres dos anos 70 era multi facetada, colorida de um lado e suja de outro, já a Seatle dos anos 90 era basicamente fria, gelada,sem uma identidade visual elaborada, e tudo o que a moda de lá podia oferecer eram os inacreditáveis camisões de flanela que fizeram sucesso até no verão do Rio de Janeiro (!).
Sem estrutura adequada para sustentar a fama repentina e os milhões de dólares adquiridos subitamente, as bandas começaram a se esfacelar, a criatividade a minguar e as músicas parecia se diluir numa temática fria, deprimida e auto destrutiva que repercutia mais ainda quando se associava à vida pessoal daqueles garotos de repente transformados em ídolos.
Para cada movimento, sempre havera um Martír, para cada Martír, um motivo!
Em 1994 Cobain saiu das paginas musicais para a pagina policial após cometer suicídio com um tiro na cabeça, aparentemente sozinho, entregue aos próprios fantasmas, auto indulgente, como o fim do movimento que representava.
O Rock alternativo jamais foi o mesmo, sua temática fora definitivamente absorvida pela indústria, seus códigos assimilados e sua estética devidamente esmiuçada e dissecada em seguidas coleções de outono-inverno pelo do mundo.
Uma década após , através do olhar preciso e analítico daquele documentário, percebo que ainda que como mero espectadores, vivenciamos a formação de um importante capítulo da história do Rock, de um capítulo conflituoso e inevitável, tal qual o fim da adolescencia, o da Inocencia perdida!

-Na barra de Vídeo ao lado relacionei partes do documentário Seven Ages of Rock e em homenagem aos alternativos de ontem e de hoje a radio Toca Plays está com sua seleção totalmente College Rock-
Hope u Enjoy